Testamento Vital: Declaração

AVISO: Este artigo pode ser considerado ofensivo e ferir susceptibilidades

Por cobardia do nosso Primeiro-ministro, não será legislada a lei relativamente ao Testamento Vital nesta legislatura. Para os mais desatentos não se está a falar de Eutanásia, mas somente de uma declaração para as situações em que uma pessoa não quer receber tratamento (julgo que por fundamentos religiosos isso já existe) e por algum motivo não se poderá expressar. Infelizmente numa sociedade aldeã, ainda achamos legitimo numa situação como a que descrevi que a pressão social se sobreponha à vontade legitima individual. Parece que ainda não somos nós que mandamos no nosso próprio corpo.

Posto isto, e como não quero ficar a aguardar pela vinda deste diploma, quero deixar bem claro quais as situações em que não quero receber tratamento:

Declaro que:

1 – Caso ocorra um acidente, ou incidente, que me coloque num estado de coma irrecuperável ou vegetativo, não quero receber tratamento médico que me permita viver.

2 – Caso ocorra um acidente em que terei lesões cerebrais graves e diminua substancialmente a minha capacidade de raciocínio, e desse acidente necessite de tratamento para estabilização e sobrevivência, não quero receber esse tratamento.

Mais, para que fique claro a minha posição relativamente a este ponto e à Eutanásia, declaro que se uma pessoa muito, muito próxima de mim, cair numa situação em que a sua vontade se enquadrasse numa situação de testamento vital ou eutanásia, que cumprirei a vontade da mesma, independentemente dos avanços legais sobre esta situação. Julgo que ninguém tem o direito de sobrepor-se, nesta questão, à vontade do próprio causando e prolongando o sofrimento injustificadamente.

Numa sociedade que ainda permite que, por exemplo, existam discriminações baseada em fundamentos religiosos, é tempo de dizer basta a um caso claro de violação do direito natural e inalienável do indivíduo a decidir no seu próprio corpo.

4 comentários:

TMR disse...

Acho que fazes muito bem em deixar tudo isso claro. Apesar de não achar que isso possa ter valor legal, mas de qualquer forma, é um bom exercício.

Stran disse...

Oi TMR! Obrigado por teres cá passado.

Tens razão, por enquanto (e julgo mesmo com a lei do Testamento Vital) não tem força de lei.

Mas a minha vontade fica expressa e não existem duvidas, se depois fizerem o tratamento só peço que quem o fez (e todos os que estão contra o Testamento) expliquem em pessoa o porquê de fazerem sofrer as pessoas à minha volta (psicológicamente) e a a mim (fisicamente).

Obrigado pelo teu comentário.

ml disse...

Estou plenamente de acordo em que o estado disponibilize essa possibilidade a quem a pretender utilizar. O Sócas encolheu-se, agora até às eleições encolhe-se em tudo o que lhe pareça polémico.

Quanto ao que à minha pessoa diz respeito, vou mais devagar, para já. Conheço um ou dois casos que me fazem pensar maduramente, nomeadamente o de uma amiga que chegou a estar estendida na maca, de etiqueta no dedo do pé. Ou as conversas com outra amiga, médica hospitalar e que até é favorável a essa legislação.
Não sei, acho que é uma área em que pessoalmente ainda caminho em bicos de pés.

Stran disse...

Oi ML!

Sim isto é um tema em que cada pessoa tem a sua visão. Aliás longe de mim num assunto como este achar que existe um comportamento optimo.

Julgo que tudo depende de como encaramos a vida. Para mim é essencial para disfrutar a vida ter a cabeça "limpa" caso contrário já não sou eu, sou um outro.

Existiu uma imagem que me marcou muito quando fui a Paris: quando estava a atravessar uma rua, em sentido contrário vinha uma senhora de média idade a empurrar o que eu presumo ser a sua mão de noventa anos em cadeira de rodas. Ela (a mãe) tinha um ar completamente perdido e a sua cabeça abanava contantemente, não dos solavancos da cadeira de rodas mas de um mais que provavel doença tipo Parkinson ou alzheimer, mas o que prendeu a minha atenção foi o olhar. Era um olhar perdido, ausente como que completamente vazio.

Nesse momento imaginei o que seria estar nessa situação e a verdade é que não queria, pois senti que já não era eu. Foi aí que compreendi para a mim a minha existência só era real se eu a conseguisse percepcionar. E é nesse sentido que fiz este testamento, mais que a limitação fisica é a psiquica que não quero ter, pois aí já não sou eu mas um outro qualquer no meu corpo.