Riqueza (III)

Nos dois artigos anteriores tentei visualizar a riqueza num prisma que não incluisse o dinheiro. A ideia era, que desta forma conseguiria ter uma noção mais clara da riqueza que poderia alterar ou melhorar a percepção de algumas temáticas sobre este prisma.

Assim, genericamente reconheci que o nível de riqueza é verificada pelo nosso nível de consumo dos recursos disponíveis. Neste caso, tanto o conceito de consumo, como o conceito de recursos é entendido num sentido muito lato. O consumo refere-se a um acto, que pode ou não ser fisico (por exemplo, o passar tempo em lazer é enquadrado para mim neste acto) mas está relacionado positivamente com o nosso bem estar. Quanto ao conceito recurso, ele também é visto por mim num conceito lato e abrange recursos tangíveis e intagíveis.

Assim como aparece o dinheiro? O dinheiro é a invenção humana que permite relacionar todos estes conceitos subjectivos. E devo dizer que é possivelmente uma das maiores invenções do ser humano. O dinheiro é uma relação entre as diferentes valorizações que damos ao consumo de recursos e que é materializada num papel. Como ente “fisíco” ele não tem muito valor, como o caso do Zimbabwe é exemplificativo. Isto é, a importância do dinheiro está na relação que estabelece e não na sua materialização. Embora foi esta materialização que permitiu ser uma excelente invenção. É que uma nota aumenta a portabilidade da nossa riqueza (não ficamos presos ao local fisico onde nos é permitido consumir), acabando decisivamente para o aumento da nossa liberdade de acção. Por outro lado, o dinheiro é materializado num bem que tem uma elevada durabilidade o que representou também uma maior liberdade de acção (podemos escolher quando consumir).

Mas este conceito, o dinheiro, visto desta forma poderá, se explorado com mais profundidade (algo para fazer num futuro mais longinquo) poderá permitir encontrar novas soluções para velhos problemas. Por exemplo, se modificarmos a forma como expressamos essa relação (actualmente está em valor absoluto) podemos mudar significamente a vida tal como a conhecemos.

Deixo aqui um exemplo:

Esta separação entre dinheiro e riqueza pode fazer sentido por exemplo na temática das multas. Será justo que para a mesma infracção dois individuos vejam o seu nível de riqueza diminuir de forma desigual?

Eu julgo que não, que a mesma infracção deveria estar associada a um igual decréscimo de riqueza. O problema é que tal e qual como as multas estão criadas (valor absoluto) faz com que essa realidade exista. Desta forma, dependente do nível de riqueza do individuo, a multa tem um impacto diferenciado.

Falemos em números: O individuo A tem um rendimento de 10,000,00 Eur, enquanto o Individuo B tem um rendimento de 500,00 Eur. Ora se determinada infração tem o valor pecuniário de 500,00 Eur, tal significa que tem impacto diferente nestes dois individuos. O Individuo A perde apenas 5% da sua riqueza enquanto o individuo B perde a totalidade da sua riqueza.

Objectivamente, este sistema acaba por criar discriminações na liberdade dos individuos (e a liberdade de infracção é para mim uma liberdade também) o que é de todo um efeito indesejavel.

Por exemplo, uma possível solução é a transformação das multas de valor absoluto para valor relativo (uma percentagem do rendimento mensal, por exemplo). Dessa forma garantia-se que o impacto seria identico para todos, e que o desincentivo a determinada acção (que é o conceito por detrás das multas) era identico para todos.

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