Termino hoje o meu dossier sobre o liberalismo (o balanço fica para depois). Como ultimo artigo deixo aqui três pequenos artigos que pedi a alguns autores de outros blogues que escrevessem sobre a opinião dos mesmo relativo ao liberalismo. O desafio era saber o que era na opinião do autor o liberalismo.
Desde já agradeço a colaboração e o tempo dispendido.
"O liberalismo que vamos tendo
A propósito de Luís Filipe Menezes e dos candidatos à liderança do PSD, um anónimo deixou num blogue de Braga (Avenida Central) um comentário que concluía com a afirmação seguinte: “Acho que este pessoal perdeu o pé e a cabeça, nesta conjuntura política complicada para o PSD, em que o PS ocupou o espaço da direita neoliberal.” Num outro blogue (Ladrões de Bicicletas), na mesma data, podia ler-se que, em Portugal, “Temos alguns bons estudos sobre pobreza e desigualdade. Mas precisamos de muitos mais. Estudos que analisem o papel da «neoliberalização» progressiva do país na consolidação e reforço de uma imensa fractura social. Estudos que mostrem como as desigualdades têm impacto em todas as dimensões que importam. Até na morte ou na dor. […] Não consigo imaginar tópico mais importante para a economia política como teoria social.
Que têm em comum estas duas citações? Porquê esta adjectivação de “neoliberal” das realidades a que se reportam: partidos políticos, no primeiro caso; gestão da economia e da dinâmica social, no segundo? Qual a actualidade do debate que se sugere implícito nestas leituras de situação?
Neoliberal é a designação conferida aos revisionistas liberais do presente, quer dizer, são liberais no contexto económico e social do início século XXI (e, antes, do final do século XX). O tempo e o espaço são elementos informadores essenciais do pensamento e da postura das pessoas. A relação entre a economia e a política é óbvia: é o primado do mercado na afectação dos recursos ou são mecanismos administrativos a definir “o que produzir”, “como produzir”, “para quem produzir”.
Em quase todos os casos das economias da actualidade, são soluções mistas, quer dizer deparamo-nos com economias ditas mistas e é aqui que surge a oportunidade para que seja questionado o nível de atendimento das necessidades básicas do comum dos cidadãos e, logo, o grau de justiça social prosseguido pelos agentes políticos. Esta é uma questão eminentemente política. É o mais quando a política é assimilada a gestão de interesses, interesses de grupos restritos: grupos económicos; grupos políticos. Aqui chegados, sai esclarecida a ausência de espaço para a afirmação de uma alternativa política por parte do PSD a que o autor da primeira citação se refere. Do mesmo modo, daí se percebe que a progressão da “fractura social” invocado na segunda. Hoje em dia, em Portugal, quem é que quer saber disso? O bloco “central” no poder, não seguramente."
Braga, 20 de Maio de 2008
J. Cadima Ribeiro
Economia Portuguesa - http://economiaportuguesa.blogspot.com
A propósito de Luís Filipe Menezes e dos candidatos à liderança do PSD, um anónimo deixou num blogue de Braga (Avenida Central) um comentário que concluía com a afirmação seguinte: “Acho que este pessoal perdeu o pé e a cabeça, nesta conjuntura política complicada para o PSD, em que o PS ocupou o espaço da direita neoliberal.” Num outro blogue (Ladrões de Bicicletas), na mesma data, podia ler-se que, em Portugal, “Temos alguns bons estudos sobre pobreza e desigualdade. Mas precisamos de muitos mais. Estudos que analisem o papel da «neoliberalização» progressiva do país na consolidação e reforço de uma imensa fractura social. Estudos que mostrem como as desigualdades têm impacto em todas as dimensões que importam. Até na morte ou na dor. […] Não consigo imaginar tópico mais importante para a economia política como teoria social.
Que têm em comum estas duas citações? Porquê esta adjectivação de “neoliberal” das realidades a que se reportam: partidos políticos, no primeiro caso; gestão da economia e da dinâmica social, no segundo? Qual a actualidade do debate que se sugere implícito nestas leituras de situação?
Neoliberal é a designação conferida aos revisionistas liberais do presente, quer dizer, são liberais no contexto económico e social do início século XXI (e, antes, do final do século XX). O tempo e o espaço são elementos informadores essenciais do pensamento e da postura das pessoas. A relação entre a economia e a política é óbvia: é o primado do mercado na afectação dos recursos ou são mecanismos administrativos a definir “o que produzir”, “como produzir”, “para quem produzir”.
Em quase todos os casos das economias da actualidade, são soluções mistas, quer dizer deparamo-nos com economias ditas mistas e é aqui que surge a oportunidade para que seja questionado o nível de atendimento das necessidades básicas do comum dos cidadãos e, logo, o grau de justiça social prosseguido pelos agentes políticos. Esta é uma questão eminentemente política. É o mais quando a política é assimilada a gestão de interesses, interesses de grupos restritos: grupos económicos; grupos políticos. Aqui chegados, sai esclarecida a ausência de espaço para a afirmação de uma alternativa política por parte do PSD a que o autor da primeira citação se refere. Do mesmo modo, daí se percebe que a progressão da “fractura social” invocado na segunda. Hoje em dia, em Portugal, quem é que quer saber disso? O bloco “central” no poder, não seguramente."
Braga, 20 de Maio de 2008
J. Cadima Ribeiro
Economia Portuguesa - http://economiaportuguesa.blogspot.com
"Porque é que a liberdade interessa
Não sou a melhor pessoa para escrever acerca de “o que é o Liberalismo”. Em primeiro lugar, porque sou um bocadinho ignorante, em segundo, porque tenho o triste e irritante hábito de tentar fazer piadas acerca disso. Para além do mais, não sou um “liberal”: o Liberalismo é uma filosofia política que assenta na ideia de que a Liberdade individual é o valor político a que todo e qualquer arranjo político deve obedecer, e eu não só não acho que a Liberdade individual seja o valor absoluto a que toda e qualquer solução política se deve sujeitar, como não acho que haja um valor absoluto que deva orientar a acção política. No entanto, tendo a concordar com os liberais naquilo que eles propõem para sociedade. Por uma razão muito simples: odeio tanto o resto da espécie que quero que o meu semelhante me governe o menos possível; quero poder estragar a minha vida à vontade, sem que a estupidez alheia a torne ainda pior. Para mim, esse é o único liberalismo que me interessa: um arranjo político que me garanta a mais alargada possível esfera de acção em que não seja forçado a depender de outros seres humanos. Eu agradeço, e, acreditem, eles agradecem ainda mais. Se a Humanidade pode esperar por alguma forma de salvação, ela terá forçosamente de passar por todos nós termos a oportunidade de fazer asneira sem levarmos todas as outras pessoas atrás."
Bruno Alves
www.desesperadaesperanca.com
www.oinsurgente.org
Não sou a melhor pessoa para escrever acerca de “o que é o Liberalismo”. Em primeiro lugar, porque sou um bocadinho ignorante, em segundo, porque tenho o triste e irritante hábito de tentar fazer piadas acerca disso. Para além do mais, não sou um “liberal”: o Liberalismo é uma filosofia política que assenta na ideia de que a Liberdade individual é o valor político a que todo e qualquer arranjo político deve obedecer, e eu não só não acho que a Liberdade individual seja o valor absoluto a que toda e qualquer solução política se deve sujeitar, como não acho que haja um valor absoluto que deva orientar a acção política. No entanto, tendo a concordar com os liberais naquilo que eles propõem para sociedade. Por uma razão muito simples: odeio tanto o resto da espécie que quero que o meu semelhante me governe o menos possível; quero poder estragar a minha vida à vontade, sem que a estupidez alheia a torne ainda pior. Para mim, esse é o único liberalismo que me interessa: um arranjo político que me garanta a mais alargada possível esfera de acção em que não seja forçado a depender de outros seres humanos. Eu agradeço, e, acreditem, eles agradecem ainda mais. Se a Humanidade pode esperar por alguma forma de salvação, ela terá forçosamente de passar por todos nós termos a oportunidade de fazer asneira sem levarmos todas as outras pessoas atrás."
Bruno Alves
www.desesperadaesperanca.com
www.oinsurgente.org
"É preciso dizer que existe longa controvérsia entre pensadores e escolas a respeito do que seja o liberalismo. Desde Locke até John Rawls o caminho é bem tortuoso. Seria ingenuidade pensar o contrário. Mas não quero entrar aqui nesta longa contenda, mas que jamais deve ser desprezada pelo estudioso do tema. Para mim, o liberalismo pode ser resumido na defesa da supremacia da liberdade individual e esta é resultado do direito de propriedade ao próprio corpo e as coisas que a pessoa apropria da natureza, desde que não estiver anteriormente apropriada por ninguém. O corolário essencial é as livres trocas de propriedades e a liberdade de buscar o que o sujeito tem razões para valorar. Este é o cerne da doutrina liberal de acordo com o meu entendimento. Porém, entre a corrente liberal clássica que defende o monopólio do Estado para garantir os direitos e liberdades dos indivíduo e a doutrina do liberalismo mais radical como o de Rothbard que rejeita o Estado por ele mesmo ser uma entidade violadora dos direitos das pessoas, eu tendo a ficar com o libertarianismo rothbardiano, pois em termos de coerência interna da teoria, esta parece-me ser superior ao do liberalismo clássico. Então liberalismo pra mim é propriedade, liberdade e não-agressão. Em termos conceituais, não teria nada a acrescentar ao que está no For New Liberty do Rothbard."
Lucas Mendes
http://austriaco.blogspot.com/
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