Comentários infelizes

"Caro Daniel Oliveira,

Como habitualmente faço assisti ao Eixo do Mal neste fim-de-semana. No entanto existiram duas situações neste programa que me levam a escrever este artigo: o desdém demonstrado por quem vê e gosta de futebol e uma frase sua.
Os primeiros 20 minutos deste programa foram passados a gozar por quem gosta de futebol. O que começou por uma legítima critica ao jornalismo e às “peças jornalísticas” à volta deste evento (Euro 2008) acabou no simples gozo e numa caricaturização de quem vê e gosta de futebol. A ideia transmitida de que quem gosta e acompanha este evento é “inculto” é infeliz e transmite uma ideia de snobismo que é negativo independentemente de quem o pratica.
Gostava que me explicasse qual o problema de apreciar um jogo de futebol, de vibrar e se entusiasmar com um evento futebolístico e em que medida que isso está relacionado com o grau de cultura de uma pessoa?
Este preconceito demonstrado é estúpido e transmite uma imagem de superioridade cultural de quem não aprecia o futebol (que não estava à espera do vosso painel de comentadores). O facto de gostar ou não gostar de futebol não interfere em nada com o que uma pessoa é. Nem uma pessoa que aprecia futebol é inculta nem uma pessoa que não aprecia futebol é um “pseudo-intelectual”.
Quanto à crítica ao jornalismo ela pecou por ser escassa. Faltou uma análise um pouco mais profunda. É que neste problema (e não se resume à cobertura do Euro) grande parte da responsabilidade é dos próprios jornalistas, a sua profissão caso não estou enganado.
A simples constatação deste problema, sem uma acção para o contrariar é uma perfeita imagem de Portugal contemporâneo. Em que todos comentam e poucos fazem para mudar esse problema. O jornalismo é o que é, pois não existe um grupo de jornalistas com coragem para inovar e criar produtos de qualidade. E neste campo só os próprios jornalistas o poderão fazer pois por restrições legais, esta é uma profissão com legítimos privilégios. Ou seja um pouco de autocrítica só tinha melhorado os vossos comentários no programa.

Quanto à frase que proferiu e que me surpreendeu (pela negativa) foi a seguinte: “a minha selecção é o Sporting”.
Numa primeira instância não parece nada demais, no entanto proferida por si foi surpreendente. Não pelo tema em si mas pelo espírito que encerra. Para quem tanto critica e comenta este tipo de atitude demonstrou que afinal no seu intimo defende uma posição contrária. Esta frase encerra a lógica de que “o que me interessa é o meu bairro e Portugal que se lixe”, encerra a lógica das “rotundas” e dos desperdícios que as autarquias praticam. No fundo nada mais é do que a defesa do “self interest” que tanto divide a Esquerda e a Direita, os liberais e os socialistas.
Posso ter interpretado de forma errada, pode ter sido apenas uma piada infeliz, mas isso só você poderá esclarecer.

Bem despeço-me com votos de boas férias, e espero que possa, quando chegar responder a estas minhas dúvidas.

Atenciosamente,

Stran "
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