Ascensor Social

Na passada sexta-feira saiu no suplemento de Economia do Publico uma noticia sobre as mulheres que ocupam cargos de Administração nas empresas do PSI-20. Ao todo são somente 7, o que é um espelho do estado civilizacional em que ainda nos encontramos.

No entanto foi interessante analisar os factores de sucesso destas sete mulheres:

- Factor C
Nome: Ana Maria Fernandes
Empresa: EDP
"...e, numa conversa com António Mexia, de quem era amiga e com cujo pai tinha trabalhado no Banco Efisa, lhe disse que tinha duas hipoteses de trabalho em vista. "Ele desafiou-me:'Porque não vens trabalhar comigo para a Galp?'..."

- Factor F
Nome: Claudia Azevedo
Empresa: Sonae SGPS
"Já sobre ser administradora de uma empresa que é da sua familia..."

Nomes: Maria Manuela Vasconcelos Mota, Maria Teresa Vasconcelos Mota, Maria Paula Vasconcelos Mota
Empresa: Mota Engil
"...irmãs do presidente..."

- Factor P
Nome: Maria Celeste Hagatong
Empresa: BPI
"...cito o próprio BPI, onde as mulheres são 52 por cento dos trabalhadores sendo que há 23 por cento de mulheres em cargos de topo..." "Em Setembro de 1974 entra no Ministério da Administração Interna..." "...ingressa no Ministério das Finanças como directora dos serviços financeiros da Direcção Geral do Tesouro..."

No caso de Maria Maude Mendonça de Queiroz Pereira Lagos (Semapa), não tenho nenhuma referência.


No entanto tais factores não pôem em causa a competência destas mulheres. Como a administradora referiu, sendo parte da familia tinha de trabalhar 25% mais. Nem estes factores são exclusivos das mulheres, é uma realidade do mercado de trabalho. Aliás a novidade é mesmo que estes cargos já não são exclusivo de homens.


Este é apenas um reflexo de Portugal. A competência poderá te levar alto no ascensor social mas parece que para chegar à "Penthouse" é necessário ter uma chave especial.


Consumidor ou Cidadão?




Cada vez mais estas nóticias fazem capas de jornais. Temas como a subida do IVA, o valor da Inflacção, o valor do deficit, saltaram do seu campo económico para o campo social e principalmente politico.

Eu sei que todos estes temas são importantes na nossa vida, afectando todos os seus detalhes, no entanto a atenção à volta destes fenomenos tem sido exagerada. Existe uma obsessão, quer a nível da imprensa quer, e principalmente, ao nivel dos nossos políticos. Este dados passaram o campo de simples indicadores e instrumentos para quase serem o centro das ideologias politicas.
Por vezes confundindo-se mesmo com valores que um determinado partido defende.

Ora o mesmo pode ser sentido no caso dos financiamentos ao organismos que tutelam os temas económicos e principalmente o consumo (por motivo de tempo não pude confirmar mas seria interessante comparar o orçamento do Tribunal Constitucional com o Orçamento para a Agência da Concorrência).

Ora todos estes factos encerram uma mudança de paradigma na análise de um país pelos seus politicos. A realidade é que cada vez mais os nossos politícos olham-nos como meros consumidores (Portugal como um espaço de consumidores) em detrimento de nos considerarem cidadãos (Portugal como um espaço de cidadãos). E ao constatar este facto muito do que se tem passado nos ultimos anos em Portugal fica explicado e passa-se a compreender melhor a nossa realidade contemporânea.

Não é boa noticia!

Nunca pensei dizê-lo mas esta não é uma boa notícia. E até é bastante enganadora. Para analisarmos um pouco este efeito vejamos o seguinte cenário:
Partimos do pressuposto que uma pessoa em média recebe 1.000,00 Eur mensalmente (já com subsidios incluidos). Deste 1.000,00 o Sujeito gasta 500,00 Eur para a renda da casa e o que sobra, gasta 70% (350,00 Eur) em bem taxados a 21% de IVA. Assim podemos verificar que:

Cenário 1
O ganho desta diminuição fica nos consumidores.
Assim por mês esta pessoa fica com a "espectacular" quantia de 2,89 Eur por mês. Um aumento no seu rendimento mensal "brutal". A lufada de ar fresco que precisavamos... Por outro lado se partirmos do pressuposto que 5.000.000 de pessoas (população activa) então nesta situação o Estado perde por mês 14.462.809,92 Eur (quase 175.000.000 Eur por ano).
A questão é: será que o beneficio que sentimos é superior a esta perda de receita? Não seria melhor utilizar esta verba para diminuir o a divida do Estado (preferencialmente aos bancos). Julgo que sim, julgo que essa seria a melhor aplicação que o Estado poderia fazer neste momento e uma forma de redistribuir melhor os seus proveitos.

Cenário 2
O ganho desta diminuição fica nas empresas
Talvez seja o cenário mais próximo da realidade dado os montantes e o caso dos "health clubs". Neste caso as empresas passam a ganhar mais 2,41 Eur por pessoa (valor antes de imposto) e o Estado perde por pessoa 1,81 Eur (cerca de 9.000.000 Eur mensais e mais de 100.000.000,00 Eur anuais).
Ou seja com esta medida o Estado acaba por beneficiar as empresas (neste caso accionistas e investidores) em detrimento da população. Acaba por aumentar o rendimento disponível mas aumentando a disparidades economicas em Portugal.

Assim o que parecia uma boa noticia (suadada até pelo PCP) na verdade pouco efeito tem na população em geral. E pior dá a perfeita imagem da fase eleitoralista que vamos iniciar.

Temos de ser honestos e, a bem da verdade, nenhuma grande reforma foi elaborada, e os problemas do Estado mantém-se. Abrandar agora serve apenas os interesses imediatos relativamente a interesses de longo prazo. O pior é que medidas como esta vão fazer com que o esforço que efectuamos seja desperdiçado por uma vontade não de servir os nossos interesses mas os interesses eleitorais de um país.

Portanto esta não é uma boa notícia, pelo contrário, nos tempos que correm é uma péssima notícia!!!

Ligação directa

A partir de agora as noticias do publico que forem comentadas terão uma "Ligação directa" à mesma página. Por esta decisão gostava de dar os meus parabens ao site pois esta integração será muito util na divulgação de blogues e opiniões diversas das do "main stream".

Geração Mimada

Todas as gerações ficam marcados por um episódio menos feliz. A minha ficou marcada por um rabo, esta ficará por uma adolescente aos berros "dá-me o telemóvel".
Aquela imagem acaba por capturar tudo o que esta geração é. É o resultado de uma educação negligente dos pais, e que agora cresceu mas não perdeu os seus hábitos de bébé chorão. É uma geração "estragada" por mimos, por nunca ter tido sentido de responsabilidade e que nunca foi responsável por nada. Há muito que é moda entre "especialistas" que a responsabilidade é de todos menos dos seus actores, foi um grave erro que leva a esta imagem.
Esta é uma geração mimada, demasiada egocêntrica para verificar os seus próprios erros. Como geração mimada que é se algum dia ler estas linhas nunca se reverá nelas mas pior, nunca reflectirá sobre o motivo pelo qual eu escrevo estas palavras. E continuará por aí a amuar sempre que não obtem o que pede, a berrar de uma forma ridicula.
É uma geração mimada que nos espera, não revolucionária, não rasca, simplesmente e extremamente mimada!

Portugal ou o país do Tuga?

Por vezes coloco-me esta questão. Que país é este em que vivo? Qual é o nosso futuro? ou porque é que sinto que pela primeira vez em muito tempo caminhamos para um futuro pior que o passado?
São algumas questões que coloco a mim próprio e que me faz duvidar que esteja em Portugal.
Este é mais o país dos Tugas, em que o chico espertismo é valorizado. Em que a arrogancia é confundida com determinação e onde a liberdade perde o seu valor. É um país que não sabendo para onde vai também não se preocupa com isso.
O país paralisado, indiferente ao que vai acontecendo, que perdeu as forças necessárias para sonhar e concretizar esse sonho. Num determinado Abril construiu-se um sonho (bom ou mau, agora é indiferente) mas não existe coragem para continuar a sonhar. Quem veio de longe foi para longe, não deixando a sua marca.
Portugal é um país mas o país do Tuga é um aglomerado de pessoas que ocupam um determinado espaço e que, por mera obra irónica do destino, convive e sobrevive.
Eu nasci em Portugal, mas hoje não sei mais se vivo em Portugal ou no País do Tuga!

O caminho que caminhamos...

Quem julga que o ensino em Portugal é mau ou que os professores são incompetentes deve estar fora do País isolado num canto qualquer deste globo, numa Caverna de Sócrates.

Este ano os professores além de ensinarem os seus alunos ainda encontraram força suficiente para ensinar o país inteiro várias lições importantes. Ensinaram-nos que é importante não esquecer que vivemos em democracia e que como tal temos muitos instrumentos que temos e devemos utilizar. Mostraram-nos como fazer uma manifestação com preocupações de não afectar outras pessoas. Ensinaram-nos que nós não somos reféns de Sindicatos ou partidos, e de que estes são úteis numa contestação.

Mas a lição mais importante que nos tentaram ensinaram e que julgo que nós sociedade civil corremos o risco de não aprender: que a dignidade é um valor superior a qualquer valor financeiro. E julgo que não aprendemos esta lição pois ainda hoje não existe um movimento suficientemente forte para obrigar o governo a parar esta avaliação.

Existiu ao longo deste ultimo ano dois temas verdadeiramente fracturantes na sociedade: o Aeroporto e a reforma no Ensino. Ambos são investimentos enormes que a sociedade está a fazer, e onde o custo de oportunidade é muito elevado pelo que não deve de existir margem para erro. E também ambos são temas que já estão a ser estudados há muito tempo.

No entanto embora sejam muito semelhantes uma afecta o centro da sociedade (as pessoas) enquanto outro afecta apenas interesses económicos. O que foi e continua a ser estranho é que enquanto no caso do aeroporto se tomou a decisão correcta quando surgiram dúvidas “fundamentadas” da bondade da decisão (parou-se para efectuar novos estudos e alterou-se a decisão), no caso da reforma do ensino tem-se defendido a atitude exactamente oposta: primeiro age-se e depois é que se verifica os danos.

Infelizmente vivemos numa sociedade que é assim, que se preocupa mais com uma infraestrutura do que com as pessoas. É triste caminho que caminhamos neste momento. O mais estranho é ser caminhado por um governante “supostamente” socialista…

Quanto custa esta avaliação?

Resolvi fazer um pequeno cálculo. Nada muito elaborado. Partindo do pressuposto que cada professor gasta 8 horas do seu trabalho nesta avaliação e que aufere em média 1.600,00 Eur e que nestas 8 horas consome uma refeição (subsidio de refeição de 4,11 Eur). Quanto é que custará esta avaliação. Assim:

Nº de Horas: 8 Horas;
Custo Hora (com S.S.): 13,05 Eur;
Refeição: 4,11 Eur;
Nº de Professores: 150.000;

Custo Total: 16.276.500,00 Eur

Pois é! Para executar uma actividade que será ineficiente, que não altera nada o Estado dispõe-se a gastar, pelo menos 16.000.000 Eur por ano.
A minha dúvida é a seguinte: Se o estado está tão disposto a gastar este dinheiro desnecessariamente, porque é que não abandona esta politica e me dá 1.000.000 Eur, eu ficava muito contente, o Estado poupava muito dinheiro. Pode não ser muito para o Estado mas para mim, que estou cá em baixo parece-me exorbitante, não acham?

O próximo erro da Ministra de Educação

Ao longo deste ano foram apontados diversos erros à reforma que esta ministra tão teimosamente defende. A mesma julga que as criticas que lhe apontam à reforma são vindas de forças de bloqueio e de reacionários, de quem não quer mudar por a mudança implica sacrifícios.
Bem como não sou professor, não sou reaccionário e muito menos força de bloqueio julgo que tenho a Ministra me concede a liberdade (e o dever enquanto escritor neste blogue) de lhe apontar o seu novo erro na próxima legislação: A autonomia (para consultar o projecto de lei clickar aqui).
Como sempre o preambulo não passa de boas intenções, de certezas infudadas. Mais uma vez em teoria e no abstracto não está incorrecto. Por exemplo julgo que ninguém discorda do seguinte:
"É indispensável promover a abertura das escolas ao exterior e a sua integração nas comunidades locais."
ou do seguinte:
"Para tanto, torna-se necessário assegurar não apenas os direitos de participação dos agentes do processo educativo, designadamente do pessoal docente, mas também a efectiva capacidade de intervenção de todos os que mantêm um interesse legítimo na actividade e na vida de cada escola."
Até aqui nada de novo. Idêntico a todos os outros preâmbulos. E normalmente estes serão os argumentos que justificarão a continuidade deste diploma quando a próxima polémica estalar.
Mais uma vez a Ministra virá, com a sua cara angelical, dizer que quem está contra esta lei não quer uma "abertura das escolas ao exterior " ou de que quer impedir "a efectiva capacidade de intervenção de todos os que mantêm um interesse legítimo na actividade e na vida de cada escola."
Mais uma vez será falso, mas os que não se disposerem a ler a lei, acreditarão nesta virtuosa ministra e verão monstros "reaccionários" nos que a contestarem.
Para que não haja dúvidas, a lei num todo não está mal, mas tem, para mim, uma falha grave e que deveria ser eliminada:
Com esta lei será criado o CONSELHO GERAL:
Cuja lei define como sendo "o órgão de direcção estratégica responsável pela definição das linhas orientadoras da actividade da escola..."
Cujas Competências são as seguintes:
"Artigo 13.º

Competências
1 – Sem prejuízo das competências que lhe sejam cometidas por lei ou regulamento interno, ao conselho geral compete:
a) Eleger o respectivo presidente, de entre os seus membros, à excepção dos representantes dos alunos;
b) Eleger o director, nos termos dos artigos 21.º a 23.º do presente diploma;
c) Aprovar o projecto educativo e acompanhar e avaliar a sua execução;
d) Aprovar o regulamento interno do agrupamento de escolas ou escola não agrupada;
e) Aprovar os planos anual e plurianual de actividades;
f) Apreciar os relatórios periódicos e aprovar o relatório final de execução do plano anual de actividades;
g) Aprovar as propostas de contratos de autonomia;
h) Definir as linhas orientadoras para a elaboração do orçamento;
i) Aprovar o relatório de contas de gerência;
j) Apreciar os resultados do processo de auto-avaliação;
l) Pronunciar-se sobre os critérios de organização dos horários;
m) Acompanhar a acção dos demais órgãos de administração e gestão;
n) Promover o relacionamento com a comunidade educativa;
o) Definir os critérios para a participação da escola em actividades pedagógicas, científicas, culturais e desportivas.
(..) "
Ou seja vai ser orgão mais importante na definição da politica da escola, no seu funcionamento, e modo de operar. Fazendo uma analogia ao mundo empresarial, será o Conselho de Administração das escolas, logo o orgão mais importante.
Continuando a analogia empresarial, faria sentido que os accionistas fossem aqueles que detém a responsabilidade real e efectiva da escola, ou seja os professores, directores, alunos e outros profissionais da escola. Mas será que é assim?
A resposta como é obvia é NÃO!!!
Esta Ministra misturou dois conceitos cujas palavras em inglés são muito parecidas mas cujo o significado é distinto:
Stockholders (accionistas) - são os detentores da empresa e são responsáveis pela mesma. Nesta analogia seriam os professores, alunos, directores e outros profissionais da escola.
Stakeholders (grupo de interesse) - são os vários agentes relacionados com a empresa. Que não sendo detentores da empresa são muito influentes na mesma (por exemplo os clientes, fornecedores, etc...). Nesta analogia seriam os pais, os municipes, outras entidades de relevo na sociedade.
Posto isto como será a composição deste conselho de gestão (ou em analogia do conselho de administração)?
A que emanar do Conselho de gestão transitório. Que será constituido por:
"a) Sete representantes do pessoal docente;
b) Dois representantes do pessoal não docente;
c) Quatro representantes dos pais e encarregados de educação;
d) Dois representantes dos alunos, sendo um representante do ensino secundário e outro da educação de adultos;
e) Três representantes do município;
f) Três representantes da comunidade local."
Ou seja os "stakeholders" são maioritários no caso de escolas em que não exista ensino secundários e quase maioritários nos outros casos.
É sem duvida um caso uníco de gestão. Continuando a analogia era como os clientes tivessem acento no Conselho de Administração de um empresa!
Infelizmente esta vai ser mais uma medida que será prejudicial à Escola Publica, agora além de pressão os diversos grupos de pressão passarão a interferir com o funcionamento da própria escola.
Mais uma vez a Ministra tinha boas intenções mas o que acaba de criar é um erro gigantesco e que mais uma vez trará graves consequências ao Ensino. É caso para dizer "mais valia não fazer nada"!!!

P.S. É um facto inédito que elementos externos a uma organização possam ter capacidade de interferir na criação de um regulamento interno. E para quem tem duvidas o que é este regulamento interno aqui fica a definição dada pela lei:
"Regulamento interno – o documento que define o regime de funcionamento do agrupamento de escolas ou da escola não agrupada, de cada um dos seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos serviços administrativos, técnicos e técnico-pedagógicos, bem como os direitos e os deveres dos membros da comunidade escolar;"

O Dia Seguinte

Antes demais gostava de dar os meus parabéns a todos os professores que participaram (ou que embora não participando pelos mais variados motivos gostariam de ter participado) na iniciativa de Sábado. É um orgulho para Portugal ter uma classe de docente tão competente e com tanto civismo.
Agora começa a ser dado os próximos passos. Não vou perder tempo com os que continuam a atacar e insultar esta classe, os seus propósitos e intenções. Ao efectuarem essas críticas apenas espelham a sua mais profunda ignorância.
Assim deixo aqui um texto que copio do Kosmografias. Começa a ser escrito uma proposta alternativa de avaliação que deverá ser analisada opr todos e melhorada se existir motivos para tal. Para quem diz que os professores não têm alternativas esta é a resposta mais cabal a tais criticas.
Assim do Kosmografias para o TUGA:
"

"A vossa participação é fundamental!
Por favor, comentem as propostas aqui apresentadas.
Sugiram correcções, adendas e tudo o mais que vos aprouver. Só com a vossa participação se poderão legitimar as alternativas a propor ao ME.
_________________________________________________

I. Enquadramento e considerações gerais.

Importa, a partir deste momento (8 de Março de 2008), contribuir para a construção de um modelo formal de avaliação dos docentes que seja credível, operacional e que, sobretudo, em si mesmo, sem outra nefasta intenção pseudo-educativa e sem outra enganadora encenação política, vise, assumida e coerentemente, melhorar o desempenho do sistema educativo português e, por essa via, melhorar significativamente os seus resultados globais e sectoriais.

Assim, é imperioso capitalizar a vasta e rica experiência e o amplo conhecimento dos professores (sem os quais qualquer reforma de fundo estará previamente condenada ao fracasso), em articulação com a experiência e o conhecimento de outros especialistas de outros vitais domínios das ciências sociais e humanas e de outros actores da praxis societária e comunitária.

Não importará muito aqui explanar os erros de gestão política do ME nem também aqui esgrimir os argumentos que sempre acompanharam a razão dos professores ao longo deste atribulado processo. Apenas a conclusão última interessará: depois do protesto (sobejamente fundamentado e justificado) que trouxe às ruas a indignação e a razão de muitas dezenas de milhares de professores, a aplicação do modelo de avaliação urdido marginalmente nos longínquos gabinetes do Ministério da Educação, não apenas se tornou tecnicamente impraticável como também se tornou politicamente insustentável. Nesta análise, e para fundamentar as propostas que a seguir se apresentam, começa-se, incontornavelmente, por esta última, as ilações e repercussões políticas de todo este irracional processo.

II. Ilações e repercussões políticas.

1. Ao longo deste penoso e inquietante desvario político do ME, só este não terá percebido, a tempo e horas, que o modelo de avaliação por si congeminado não trazia consigo qualquer valor acrescentado para a requalificação das escolas, para a melhoria do desempenho profissional dos professores e, muito menos, qualquer mais-valia para os alunos e para as suas famílias. Quando muito, quedar-se-ia por indirecta e ilusoriamente mascarar as números do insucesso e do abandono escolares de Portugal nas estatísticas europeias e nas da OCDE;

2. O modelo até aqui proposto pelo ME não se compagina com a realidade portuguesa e muito menos com o desejado desenvolvimento educativo do País com base na qualificação do seu capital humano. Ao contrário do que diz a srª Ministra (Cfr. “A grande Entrevista”, RTP, de 6 de Março p.p.), não é um modelo avaliativo dos mais modernos e actuais em vigor na Europa. Pelo contrário, antes replica (quase plagia na íntegra) os modelos externamente impostos, sobretudo para conter as despesas com a massa salarial dos professores, a países como o Chile, a Colômbia ou a Roménia (Vide, entre outros, o seguinte link, http://www.docentemas.cl/bienvenida.php );

3. A ministra da Educação tem hoje contra si e contra as suas políticas educativas a esmagadora maioria -se não mesmo a quase totalidade– dos educadores e professores portugueses. Por outras palavras, tem contra si a classe profissional em quem os portugueses responsavelmente confiam diariamente os seus filhos, numa interacção social sólida de confiança recíproca.
Ora, a ministra –vá lá saber-se o porquê(!)- ousou quebrar quase irremediavelmente este insubstituível laço de solidariedade social.

Em qualquer democracia moderna e desenvolvida, politicamente responsável, o mínimo exigível de decoro pessoal e de ética política, nestas circunstâncias, é a demissão de quem inquinou a relação docentes/famílias e insinuou, ainda que veladamente, que as famílias portuguesas deveriam suspeitar dos profissionais da educação a quem confiam os seus filhos, porquanto, de acordo com o discurso oficial, estes são mentores do seu insucesso escolar e da sua exclusão social.

Face ao exposto, outra mais séria responsabilidade social e outra mais cuidada análise se exige, a partir de agora, à maioria política que governa o País: as reformas educativas (pertinentes ou não) apenas singram se para a sua concepção e aplicação confluir a participação dos educadores, não numa perspectiva corporativista, mas, sobretudo, na de co-autores das políticas educativas a implementar, na medida em que os professores, para além de conhecedores ‘in-loco’ das reais fragilidades e necessidades do sistema, zelam incessantemente pelo sucesso escolar e pessoal dos seus alunos.

Torna-se, assim, incontornável a demissão da ministra da Educação e da sua obsoleta equipa ministerial, mais não seja porque, no mínimo, arrogante e prepotentemente, descapitalizaram o fundo de confiança social que recaía nos professores e na Escola pública nacional, deixando-os agora à mercê de uma desconfiança social que eles não instigaram e subjugados a um anárquico ‘puzzle’ legislativo que mina as raízes da coesão profissional e educativa, arruína o diálogo entre pares e desqualifica o desempenho institucional da escola pública nos territórios educativos locais;

4. A equipa ministerial que natural e necessariamente sucederá à equipa ministerial liderada por Maria de Lurdes Rodrigues, deverá, desde logo, dar mostras de uma cultura de diálogo e de participação democrática tendente a recuperar o tempo perdido e a inverter as consequências de algumas das mais controversas medidas da equipa ministerial ainda não demitida, nomeadamente no que se refere à serenidade e à negociação necessárias à implementação das reformas estruturais que se desejam conceber e aplicar;

5. Nesta esteira, importa, antes de tudo o mais, rever o Estatuto da Carreira Docente (ECD) no que respeita à injustificada e absurda divisão da carreira docente em duas categorias de professores (titulares e não titulares), diminuindo, assim, conflitos, tensões e potenciais tribalismos entre pares de todo em todo indesejáveis e nefastos para a qualidade (multidimensional) da educação e dos seus resultados que todos, de boa-fé, querem melhorados e para eles pessoal e profissionalmente desejam contribuir;

6. Importa, também, rever as obrigações profissionais dos educadores e professores, nomeadamente no que se refere ao conteúdo funcional da sua profissão e ao seu horário efectivo de trabalho, o qual, estabelecido com base nas 35 Horas semanais, deve contemplar as horas individuais dedicadas à preparação, organização e avaliação das actividades lectivas e não lectivas (as quais correspondem, no mínimo, a 1/3 das horas de permanência na escola), devendo no horário dos docentes constar exclusivamente as 22 Horas de trabalho (lectivo e não lectivo) cumpridos nas escolas;

7. Com base no princípio constitucional de a todos os alunos proporcionar iguais condições no acesso e sucesso escolares, deve a futura equipa ministerial encetar um processo de negociação que vise, sequencialmente, instituir e consolidar a generalização da avaliação institucional das escolas (avaliação externa) e incentivar a auto-avaliação permanente destas, tendo em vista identificar os pontos fortes e fracos de cada uma delas no que se refere ao insucesso e abandono escolares, ao clima organizacional, às lideranças, à inovação, à provisão educativa e organização das aprendizagens.

Será a partir desta avaliação institucional que, à semelhança do que ocorre na maioria dos países mais desenvolvidos, se deverá proceder à definição de objectivos de desempenho individuais, como mais adiante se explicita.

8. Com o objectivo de tornar imparcial e transparente a acção dos órgãos de direcção e gestão escolares, deve o ME, para além de revogar o diploma recentemente aprovado em Conselho de Ministros sobre a matéria, instituir uma carreira específica para gestores escolares, recrutados por concurso público, com limitação de mandatos, de entre os professores técnica e academicamente habilitados para o efeito, obstando, assim, a concluios corporativos, a facciosismos e ao proteccionismo de interesses e de rotinas instaladas;

9. A introdução de metodologias didáctico-pedagógicas e de recursos inovadores nas escolas (nomeadamente as provenientes e proporcionadas pelas novas tecnologias da informação e da comunicação - NTIC), não se compatibilizam (como em regra impõem os normativos legais), com a distribuição de cargos de orientação e supervisão pedagógica a professores em final de carreira, os quais, não raras vezes, menosprezam ou chegam mesmo a opor-se à sua utilização na relação pedagógica com os alunos.

As actuais correntes das teorias da administração e do desenvolvimento organizacional, enfatizam consensualmente que a introdução de factores de inovação nas organizações, maximizadores do desempenho destas, requer, por um lado, o achatamento dos níveis hierárquicos, reduzindo as cadeias de comando, e, por outro lado, incentivam e confiam às equipas mais jovens a promoção e integração de novas e inovadoras metodologias de ensino e aprendizagem, consonantes com os recursos da nossa etapa evolutiva e concordantes, por um lado com as expectativas e motivações dos alunos e, por outro lado, com as necessidades que emanam das sociedades actuais.

III. Aspectos técnicos gerais – Princípios norteadores.

1. O presente capítulo procura enunciar um conjunto de princípios orientadores da avaliação do desempenho docente, distinguindo dois níveis de intervenção:

1.1- Por um lado, o desempenho dos docentes e a definição dos respectivos objectivos individuais face aos pontos fracos da escola identificados na avaliação institucional;

1.2- Por outro lado, a acção do docente no desenvolvimento de práticas educativas concordantes com as necessidades da comunidade local, previamente identificadas, conjugada e articuladamente, por diversas entidades locais (do município aos serviços de acção e intervenção social, dos serviços de saúde aos serviços de protecção a menores), numa perspectiva transversal aos estabelecimentos de ensino e educação num contexto de descentralização e de territorialização das políticas educativas.

2. O futuro modelo de avaliação do desempenho profissional dos docentes deve provir dos factores críticos de sucesso a identificar necessariamente na avaliação institucional (externa e interna) das escolas e, a partir deles, estabelecer-se um conjunto claro e articulado de objectivos e de metas anuais norteador quer do desempenho institucional quer da acção docente, ambos a consignar nos respectivos Projectos Educativos de Escola / Agrupamento e/ou em Planos Anuais de Melhoria Pedagógica e Institucional.

Será dos objectivos e metas anuais assim estabelecidos que se deverão ser elaborados os objectivos individuais a formular por cada docente, procurando-se desta forma compatibilizar a acção destes com as efectivas necessidades da escola.

Também neste capítulo, sufraga-se a tese segundo a qual a avaliação do desempenho docente não deve ser realizada entre pares, nem a observação de aulas se pode constituir em instrumento avaliativo.

Registe-se, aliás, que países de referência, como a Finlândia, não têm um sistema de avaliação docente formalmente instituído e, muito menos, se “policia” as aulas dos colegas com grelhas de observação nas mãos. A relação do Estado (e, como é o caso, das administrações locais) faz-se repousar numa base de confiança sobre os professores, motivando-os e incentivando-os para desempenhos de acrescida qualidade.

Na verdade, a observação de aulas como critério presente no sistema de avaliação, perverte e constrange as capacidades de iniciativa do avaliado porquanto, na perspectiva do avaliador, aquela deve-se operacionalizar a partir de grelhas de observação uniformizadas (e uniformizadoras) que consignam bitolas de medida pré-concebidas, as quais, no seu hermetismo e consequente resistência à mudança e à inovação, traduzem e reproduzem (e tentam perpetuar) os cânones pedagógicos ritualizados em cada escola;

3. Na linha do que acaba ser exposto nos pontos anteriores, o modelo aqui sufragado assenta no binómio “confiança” e “compromisso”.

Confiança do Estado nos seus professores; compromisso destes, a formalizar anualmente mediante a apresentação de objectivos individuais, em participar activa e responsavelmente nos factores críticos de sucesso identificados nos Projectos Educativos ou, como antes se disse, nos Planos Anuais de Melhoria da Escola, em estreita colaboração com outras entidades do meio local, a começar, desde logo, pelo Conselho Municipal de Educação, órgão ao qual nesta matéria devem ser claramente atribuídas competências de articulação das políticas educativas locais com base na identificação de necessidades socio-demográficas e sócio-económicas comuns e caracterizadoras das respectivas comunidades locais.


(Continua)
Fernando Cortes Leal
Professor, sem filiação política partidária, Diplomado em Alta Direcção para a Administração Pública (CADAP/INA) e especializado em Administração Educacional (FPCEUL).
Foram adicionados novos conteúdos ao presente texto. Nos próximos dias tentarei alojar aqui o resto do conteúdo da proposta.

No entanto, tal como antes sugeri, as vossas opiniões e propostas de alteração e/ou adendas podem e devem ser desde já manifestadas, para que, nos próximos dias, se proceda à divulgação pública do documento e formalmente se faça chegar aos centros de decisão política do País.
(Versão 1.2 – 10 de Março de 2008)"

Avaliação, qual avaliação?!?!?

[Nota: era para deixar o post de agradecimento aos professores até ao final da semana (que se encontra abaixo deste artigo, mas um passeio à página do Ministério da Educação (ME) "obrigou-me" a escrever este artigo]
A avaliação foi uma forte aposta desta ministra e deste ministério. Muito se falou, e a ministra para a defender utilizou todos os "truques" que pode, quase que roçando o insulto gratuito. No entanto estava a passear pela página do ME e eis que dou por mim com os formulário (para ver clique aqui) da famosa avaliação. E por curiosidade abri o formulário de avaliação dos professores do secundário (clique aqui) e a respectiva auto-avaliação (clique aqui).
Eis que fui supreendido pelo "brilhantismo" destes..., bem não tenho palavra para os qualificar!
Tanto tempo perdido em discussões, tantas expectativas e depois o resultado foi este, uma ficha de avaliação que será tudo menos acertiva e objectiva, e uma ficha de auto-avaliação que não cruza com a de avaliação.
Eu não sou nenhum entendido no assunto mas dou uns conselhos a esta ministra (visto que ela não deve saber muito deste assunto):
1. As fichas de avaliação devem ser o mais objectivas possíveis e deverão ser estabelecidos critérios concretos e mensuráveis para se poder atribuir uma nota (como está construida dificilmente se conseguirá fundamentar a diferença, por exemplo, entre o 5 e o 6).
2. As fichas de auto-avaliação deverão ser identicas às de avaliação. Isto para se poder retirar informações utéis. Para se poder comparar as duas informações e analisar diferenciais entre ambas. Este é um dado básico.
3. Nunca uma ficha de avaliação, ou no caso concreto, de auto-avaliação os campos a serem preenchidos deveram ser declarativos. Para se fundamentar ou escrever texto existem os "campos de observação". Eles devem ser ou númericos ou limitados a uma nota avaliatória. Este é um facto também básico.
Por agora foi o que consegui apanhar só com 10mn de análise. Estes formulários são muito fracos para quem andou quase 1 ano a advogar este processo como uma solução milagrosa para os problemas do ensino. Se ainda existisse alguma duvida que todo este processo não teria nenhuma utilidade, estes formulários são a melhor prova desse facto.
Ridiculo, é o mínimo que me apetece dizer!!!
Só uma nota final: para a próxima expliquem um pouco melhor o que fazer nos formulário quando assinarem o despacho. É só mais um conselho, meu caro Jorge (substituto da ministra)!

Obrigado Professores!

Não sou professor pelo que escrevo esta carta de forma livre e desprendida. Acompanho o problema do ensino e estas alterações desde o ano passado. Julgo que estas mudanças foram más e incompletas. Fizeram-se pelos motivos errados.
No entanto não escrevo este artigo por esse motivo, o que me leva a escrever estas palavras é a parte pior deste processo todo: o lado humano. Ao longo deste ano li os mais diversos comentários, ouvi debates e assisti à tremenda injustiça que muitos fizeram.
O que eu vi do lado de quem defendeu esta mudança (a contar com a ministra) foi um ataque ao sistema antigo e por conseguinte aos professores e às suas capacidades. Li, de uma forma triste devo adiantar, "esses" defensores da mudança a desqualificarem uma profissão (e as pessoas que a exercem) que é das mais dignas e uma das mais importantes para garantir um futuro mais risonho para Portugal.
Pior que isso, esse ataque caiu sobre a franja de professores que têm uma carreira mais longa e por isso está em breve reformado(a). É a pior forma de acabar uma carreira entregue ao Ensino e à causa pública. Este é o verdadeiro motivo que escrevo a estes professores.
Quero agradecer a todos eles por me permitirem ser quem sou hoje (não foram os únicos mas também contribuiram), por poder escrever estas linhas. Obrigado pelas horas incontáveis que despenderam a preparar as minhas aulas. Obrigado pela forma inventiva como muitas vezes deram as aulas e permitiram que eu aprendesse matérias interessantes. Obrigado por terem contribuido para o meu espiríto critico e para o meu futuro.
Quero que saibam que eu estou muito orgulhoso do vosso trabalho, da verdadeira revolução que operaram nos anos 70 e principalmente nos anos 80, permitindo, com o vosso brio e capacidade de esforço, que o ensino chegasse a todos e não fosse apenas acessível a uma franja diminuta da sociedade.
Ignorem quem quer branquear todo esse passado e todo esse trabalho. Julgo que não sou unico neste sentimento e espero que quando terminarem as vossas carreiras saibam que existem milhares de pessoas que como eu estão muito gratas pelo vosso trabalho.
A todos os professores
Meu ENORME AGRADECIMENTO!!!
[P.S. Caso também sintam o mesmo por favor copiem, criem um link, imprimam e façam chegar ao máximo número de pessoas e professores. Afinal eles bem mereceram estas palavras!]

Outra vez de Volta!

Peço imensa desculpa pela minha ausência sem pré-aviso. Motivos pessoais não me permitiram escrever nenhum artigo, mas já estou de volta!