No-mad: Berlim

Ainda antes de aterrar já estava nervoso. Ou melhor ansioso. Como será a cidade? Será que vai superar as minhas expectativas? Como me vou desenrascar nesta cidade? Eram estas as dúvidas que preenchiam os meus pensamentos quando o avião começou a perder altitude.

Passado uns momentos, o avião abordou a pista de aterragem e pouco tempo depois já tinhamos aterrado. Assim que parou, a maior parte dos passageiros saltou do seu banco, como que impulsionados por uma mola invisível. Eu deixei-me estar. Queria sair sem pressas, com a capacidade de desfrutar todos os momentos, particularmente o de saída do avião. Gosto das primeiras sensações que nós saboreamos ao sair do avião - a brisa, os sons, o cenário por detrás do aeroporto, o próprio aeroporto e a sua organização - ou traduzido por outras palavras, gosto de saborear todos os momentos que nos dizem que a nossa viagem está a começar.

Após a saída da primeira vaga de passageiros levanto-me, vou buscar a minha mala e dirijo-me para a saída. A primeira sensação que me invade é o de uma brisa gélida, terrivelmente gélida. Afinal era verdade o que diziam de Berlim em Dezembro. Enquanto desço pelas escadas vejo que tenho que andar um pouco pela pista até chegar ao aeroporto. Tudo muito bem sinalizado, diria mesmo impecavelmente sinalizado. Não esperaria menos de uma cidade alemã. A primeira surpresa ocorre quando reparo no aeroporto, que não é tão grande como imaginaria. Sigo então a fila e a escadarias que me guiam à saida.

A minha viagem começa realmente neste percurso. Escolhi Berlim pelo seu presente (cidade com um movimento underground invejável) e pelo seu passado. Esta cidade é para mim o simbolo do século XX europeu e ocidental. Foi nesta cidade que se discutiu, e se moldou, muito do que é o nosso presente. Foi o palco de dois dos regimes mais brutais que a humanidade conheceu (o nazismo e o comunismo) e palco simbólico da luta entre a democracia liberal e o comunismo ditatorial. E é a este comunismo que o aeroporto apela.

Ao caminhar pelos seus corredores, quase que tenho a sensação de estar ainda nessa fase desta cidade. Os seus corredores despidos e racionais, semi-nus de publicidade, fazem-me transportar para um mundo que nunca vi, que apenas tinha imaginado, e que este aeroporto teve o condão de o tornar realidade. Foi assim que, caminhando pelos corredores deste aeroporto, iniciei a minha viagem.

8 comentários:

EJSantos disse...

Olá Stran. Então que é feito de ti? Um dia, se puderes, vai a Praga. Aí vivi e amo profundamento aquela Cidade. Sabes que a palavra Berlim é uma palavra de origem eslava? Segundo um amigo meu, Checo e Historiador, a raiz da palavra Berlim é a mesma da palavra Brno (cidade do sul da Republica Checa). Vem de brlo (terras baixas e pantanosas).
Quanto a mim, estou a lutar por melhorar agora a minha situação profissional.
Cumprimentos

EJSantos disse...

O doente do Hitler tinha a mania das raças puras. Pobre ignorante. Estupido. A zona oriental da Alemanha e grande parte da população austriaca é de origem eslava (povos eslavos que foram germanizados).

Stran disse...

Oi!!!

Bem estou a tentar sobreviver um pico de trabalho que já tem uns 6 meses. Só agora começo a conseguir escrever algo outra vez...

Bem por acaso não sabia da origem do nome da cidade.

Quanto a Praga também já fui e foi muito especial para mim. Vou guardar essa cidade bem no meu coração. Não sei como é viver lá, mas o tempo que passei lá foi mesmo muito bom.

O Hitler era uma contradicção viva! O impressionante foi a capacidade que ele e a máquina à volta dele tiveram. Uma lição para nunca esquecer...

Bem espero que ganhes essa luta! Boa sorte para a mesma!

Cumpts,

Stran

ml disse...

Olá, Stran! Andaste desaparecido. Espero que passes a ser mais assíduo. :)

Começaste bem o teu No-mad, Berlim é uma cidade fabulosa, desde que fujamos da ‘Praça Sony’. Mal empregadinha Potsdamer.
Praga também, OK, mas de um outro modo, Praga é a aristocracia remediada um tanto pretensiosa.
A Nossa-Senhora-diante-de-Tyn redime-a destes pecadilhos.


ejsantos, parece-me que a atribuição da origem eslava à palavra ‘Berlim’ faz parte da mitologia checa, porque não há certeza nenhuma. Leipzig e Görlitz sim, aliás ainda se fala por aí o dialecto sorábico.

No entanto vou tentar saber melhor, Camões a morrer, Camões a aprender.

Stran disse...

Oi ML,

É verdade! Tem sido um ano horribilis, mas vou tentar ter um pouco mais de assiduidade.

Sim, adorei Berlim por tudo e mais alguma coisa (deixo os pormenores para os próximos No-mad :)).

Por acaso a praça Sony foi o primeiro sitio (sem ser aeroporto, metro e hotel) que estive. Não achei muito mau (também não conhecia como estava antes), no entanto como estava a decorrer uma feira de Natal (tão tipicas nesta altura) talvez me tenha amortecido esse impacto. Não guardo nenhuma memória especial dessa praça sem ser a parte de fora da mesma e o topo coberto da praça...

Bem quanto a praga tive razões pessoais para apreciar. No entanto uma das coisas que guardo dessa cidade é o seu silêncio mesmo no meio da confusão.

P.S. Já tinha saudades vossas ainda bem que regressaram...

ml disse...

Gostei muito de Praga, não gostei lá muito foi dos praguenses. Acho que para uma cidade que vive essencialmente do turismo deviam ser um pouco mais afáveis e funcionais. Pouco empenhados, pareceu-me. Assisti a cada cena impensável em outros lugares.
Pode ser apenas uma diferença de códigos, admito.

Na ‘praça Sony’ o que me desagrada é ser tão fechada, contra a vocação da cidade, de espaços amplos e abertos. Parece mais um centro comercial.
Gostos!, eu aprecio muito as grandes extensões. Aqui em Portugal qq metro quadrado disponível é para plantar casas.

Stran disse...

Bem eu relativamente aos praguenses tinha muito pouca expectativa, pelo que no final até foi uma experiência positiva.

Quanto à praça Sony, sim é mesmo isso que parece um centro comercial de rua mas com telheiro...

EJSantos disse...

Cara ML. Talvez seja só folclore. Mesmo assim a ideia divertiu-me muito.