Julgo que as recentes declarações de dois candidatos à liderança do PSD (Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite) vieram reforçar a ideia que tinha que é premente em Portugal que exista uma discussão alargada sobre o que é o liberalismo.
A palavra “liberalismo” tem, em Portugal uma conotação muito negativa (embora actualmente esteja na moda) por motivos que não se prendem à sua ideologia. Os principais motivos que contribuem para esta imagem são de natureza histórica e moral.
Os motivos históricos prendem-se principalmente com o nosso passado recente e mais propriamente com a ditadura e Salazar. Dado que liberalismo está conotado com a direita e a direita em Portugal está conotada com a Ditadura. Assim, e porque este regime criou muitos anti-corpos nos portugueses (que espero que perdurem por muito tempo) o liberalismo não se consegue afastar do peso negativo que tal associação acarreta. E embora na sua essência esta ligação está errada, um liberal nunca poderia apoiar um regime fascista (da mesma forma que um social-democrata nunca poderia apoiar um regime comunista ditatorial), a verdade é que esta associação acontece por uma desonestidade intelectual de alguns políticos portugueses.
Esta desonestidade leva-nos então aos motivos morais da conotação negativa atribuída ao “liberalismo”. Muitas das pessoas que apoiavam este regime ditatorial transformaram-se em “democratas” de direita e apoiantes da palavra “liberal”. Para acentuar esta desonestidade intelectual, pessoas que ligamos a uma visão liberal (muitos no PP, no PSD) cobriram esse discurso supostamente liberal de uma camada social de forma a poderem sobreviver na política. Assim nós ficamos sempre com a sensação de que estes políticos são falsos e representativos do liberalismo (o que reforça a conotação), quando na verdade apenas vão buscar algumas noções liberais sendo na sua essência conservadores mais do que alguma outra coisa e muitas vezes adoptando estas politicas não por convicção mas como estratégia de protecção de alguns interesses privados.
Para agravar a situação muitos dos nossos políticos usam noções percepcionadas pelas pessoas de determinada palavra, aplicando-as a seu bel-prazer sem que, tenham algum significado. Isto cria confusão sobre o que significa realmente determinada ideologia/palavra, confusão esta que é criada de forma utilitária.
Um bom exemplo desta confusão são as recentes afirmações dos candidatos a líder de PSD. Por exemplo Santana Lopes afirmou que “sou liberal mas defendo um Estado com presença forte” (citação tirada de cor e que pode conter alguma imprecisão). Ora nada mais incorrecto, se há algo que une os movimentos liberais é a presença do Estado nas nossas vidas. Ela deve ser sempre diminuta (sendo que o grau algo que os divide). Portanto Santana nada mais fez do que dizer uma frase que só pode ser falsa e cuja a intenção julgo ser a de receber apoios para a sua candidatura, visto que a palavra “liberal” estar em alta entre os militantes do PSD. Para ajudar a estas confusões ideológicas Manuela Ferreira Leite afirmou “Pedro Passos Coelho é liberal, Santana Lopes é Populista e eu sou Social Democrata”. Ora ou Manuela Ferreira Leite se enganou no Partido em que se inscreveu ou acabou por cometer uma desonestidade intelectual que ajuda a esta confusão. É que se há coisa que o PSD nunca foi (e já começa a ser difícil) é ter sido Social Democrata. Já foi populista, liberal, conservador, mas Social Democrata nunca (além do nome)!
Finalmente outro “aproveitador” desta enorme confusão ideológica é o actual Primeiro-ministro. Sócrates não é Social-democrata, julgo que se enquadraria melhor na visão liberal social. Ao ter dado essa imagem Sócrates não mais vez do que aproveitar-se de uma imagem que nós atribuímos ao PS para ganhar as eleições. Assim, ao camuflar as suas convicções, Sócrates mais não vez que ter o melhor dos dois mundos (uma imagem social e uma politica liberal) agradando tanto à direita como à esquerda, ganhando assim uma maioria absoluta. Mas também ao fazer isto acabou por contribuir em grande medida à confusão instalada e que apenas premeia quem anda na politica por motivos diversos àqueles que deveriam ter.
Com tanta confusão, com liberais a se apelidarem de sociais é caso para dizer:
Mas o Liberalismo afinal é o quê???
A palavra “liberalismo” tem, em Portugal uma conotação muito negativa (embora actualmente esteja na moda) por motivos que não se prendem à sua ideologia. Os principais motivos que contribuem para esta imagem são de natureza histórica e moral.
Os motivos históricos prendem-se principalmente com o nosso passado recente e mais propriamente com a ditadura e Salazar. Dado que liberalismo está conotado com a direita e a direita em Portugal está conotada com a Ditadura. Assim, e porque este regime criou muitos anti-corpos nos portugueses (que espero que perdurem por muito tempo) o liberalismo não se consegue afastar do peso negativo que tal associação acarreta. E embora na sua essência esta ligação está errada, um liberal nunca poderia apoiar um regime fascista (da mesma forma que um social-democrata nunca poderia apoiar um regime comunista ditatorial), a verdade é que esta associação acontece por uma desonestidade intelectual de alguns políticos portugueses.
Esta desonestidade leva-nos então aos motivos morais da conotação negativa atribuída ao “liberalismo”. Muitas das pessoas que apoiavam este regime ditatorial transformaram-se em “democratas” de direita e apoiantes da palavra “liberal”. Para acentuar esta desonestidade intelectual, pessoas que ligamos a uma visão liberal (muitos no PP, no PSD) cobriram esse discurso supostamente liberal de uma camada social de forma a poderem sobreviver na política. Assim nós ficamos sempre com a sensação de que estes políticos são falsos e representativos do liberalismo (o que reforça a conotação), quando na verdade apenas vão buscar algumas noções liberais sendo na sua essência conservadores mais do que alguma outra coisa e muitas vezes adoptando estas politicas não por convicção mas como estratégia de protecção de alguns interesses privados.
Para agravar a situação muitos dos nossos políticos usam noções percepcionadas pelas pessoas de determinada palavra, aplicando-as a seu bel-prazer sem que, tenham algum significado. Isto cria confusão sobre o que significa realmente determinada ideologia/palavra, confusão esta que é criada de forma utilitária.
Um bom exemplo desta confusão são as recentes afirmações dos candidatos a líder de PSD. Por exemplo Santana Lopes afirmou que “sou liberal mas defendo um Estado com presença forte” (citação tirada de cor e que pode conter alguma imprecisão). Ora nada mais incorrecto, se há algo que une os movimentos liberais é a presença do Estado nas nossas vidas. Ela deve ser sempre diminuta (sendo que o grau algo que os divide). Portanto Santana nada mais fez do que dizer uma frase que só pode ser falsa e cuja a intenção julgo ser a de receber apoios para a sua candidatura, visto que a palavra “liberal” estar em alta entre os militantes do PSD. Para ajudar a estas confusões ideológicas Manuela Ferreira Leite afirmou “Pedro Passos Coelho é liberal, Santana Lopes é Populista e eu sou Social Democrata”. Ora ou Manuela Ferreira Leite se enganou no Partido em que se inscreveu ou acabou por cometer uma desonestidade intelectual que ajuda a esta confusão. É que se há coisa que o PSD nunca foi (e já começa a ser difícil) é ter sido Social Democrata. Já foi populista, liberal, conservador, mas Social Democrata nunca (além do nome)!
Finalmente outro “aproveitador” desta enorme confusão ideológica é o actual Primeiro-ministro. Sócrates não é Social-democrata, julgo que se enquadraria melhor na visão liberal social. Ao ter dado essa imagem Sócrates não mais vez do que aproveitar-se de uma imagem que nós atribuímos ao PS para ganhar as eleições. Assim, ao camuflar as suas convicções, Sócrates mais não vez que ter o melhor dos dois mundos (uma imagem social e uma politica liberal) agradando tanto à direita como à esquerda, ganhando assim uma maioria absoluta. Mas também ao fazer isto acabou por contribuir em grande medida à confusão instalada e que apenas premeia quem anda na politica por motivos diversos àqueles que deveriam ter.
Com tanta confusão, com liberais a se apelidarem de sociais é caso para dizer:
Mas o Liberalismo afinal é o quê???
6 comentários:
eu compreendo a sua preocupação e concordo quando fala nos sofismas que geram confusões acerca do liberalismo. Mas há alguns pontos que acho manifestamente incorrectos.
1. Quanto aos motivos históricos, concordo que o Estado Novo teve grande importância para o que hoje somos e a forma como pensamos. Mas lembre-se que Salazar era anti-liberal (quer social quer economicamente). A influência do regime para o pensamento actual em relação ao liberalismo parece ser a da visão do Estado interventor como algo de absolutamente essencial. Junte isso ao sistema político que resultou da revolução de Abril (em termos económicos, o fascismo não se afasta assim tanto do socialismo...) e veja no que vai dar.
2. "É que se há coisa que o PSD nunca foi (e já começa a ser difícil) é ter sido Social Democrata. Já foi populista, liberal, conservador, mas Social Democrata nunca (além do nome)!" Cavaco Silva teve uma oportunidade única e aproveitou-a: constituiu um governo ideologicamente bicéfalo, ao mesmo tempo social-democrata e liberal (aumentou as prestações sociais e introduziu reformas constitucionais e privatizações).
3. Tudo o que Sócrates não é é liberal (excepto em termos sociais, mas isso é o PS quase em bloco)... Acho que as coisas passam-se um pouco ao contrário do que você diz: Sócrates é profundamente socialista, mas consegue agradar alguns sectores liberais com as reformas mínimas que introduziu. Se me disser que ele é um socialista liberal (Estado interventor economicamente, Estado mínimo em termos sociais/morais), aceito. Agora, dizer-me que ele perfilha do liberalismo social (Estado menos interventor em matéria económica e social)? Nem pensar...
Caro Anonimo,
Antes demais muito obrigado pelo seu comentário.
1. Realmente a sua optica está correcta. No entanto a ligação que quis dar não foi tanto uma ligação directa de Estado Novo -> Liberlismo mas uma ligação indirecta:
Estado Novo -> Direita;
Liberalismo -> Direita;
criando numa maioria da população portuguesa a ligação:
Estado Novo -> Liberalismo (que julgo que existe).
Mas gostaria que me corrigisse caso esteja errado, embora interveniente, as empresas eram privadas e funcionavam internamente em economia de mercado?
2. "Cavaco Silva teve uma oportunidade única e aproveitou-a: constituiu um governo ideologicamente bicéfalo, ao mesmo tempo social-democrata e liberal"
Julgo que ideologicamente Cavaco está perto dos Liberais sociais, mais do que social democracia (sendo que para mim é conservador). Muitas das decisões de Cavaco estão a meu ver, mais ligadas ao contexto daquela altura do que ao que ideologicamente defende. Só discordo que tenha aproveitado...
3. "Sócrates é profundamente socialista"
Aqui discordo profundamente, Todas as reformas implementadas seguem um rumo que abre caminho ao liberalismo social e não à social-democracia (educação, saude, lei laboral, segurança social). Ele apenas está condicionado pela base eleitoral (e forças internas do partido) que são sociais democratas. Nesse contexto acaba por implementar meia-medidas (com um pouco de liberalismo e um pouco de socialismo) que na minha opinião vão acabar por serem inocuas.
Infelizmente tenho de ir, mas gostaria de continuar este debate futuramente...
Mais uma vez obrigado.
1. "Mas gostaria que me corrigisse caso esteja errado, embora interveniente, as empresas eram privadas e funcionavam internamente em economia de mercado?"
As empresas que o regime escolhia... Para não falar dos vários monopólios públicos, do proteccionismo selvagem e dos planos de fomento.
2. CS aproveitou a oportunidade de ser duplamente social-democrata e liberal-conservador e aproveitou-a, obtendo os benefícios políticos (duas maiorias consecutivas).
3. Continuo a achar que Sócrates tem muito mais fama do que proveito... Veja as guinadas à esquerda na saúde e na segurança social - um liberal nunca se deixaria abater por algumas críticas estatizantes. E as obras públicas...
"Continuo a achar que Sócrates tem muito mais fama do que proveito... Veja as guinadas à esquerda na saúde e na segurança social - um liberal nunca se deixaria abater por algumas críticas estatizantes. E as obras públicas..."
Julgo que essas guinadas à esquerda (o próprio conceito implica que ele esteja à direita) derivam principalmente de factores externos à ideologia de Socrates:
- O PS tem uma base de apoio social-democrata, pelo que Socrates sendo eleito pelo PS não pode "fugir" demasiado à matriz ideológica do partido;
- O mesmo factor se aplica (como é obvio) aos militantes do PS;
- Aproxima-se eleições e claramente Socrates "aposta" em seguir a estratégia de Cavaco para tentar ganhar as eleições.
Ou seja, julgo que essa guinada à esquerda não é tanto por motivos iedológicos mas mais por motivos estratégicos.
Claro que ambos estamos a partir de um pressuposto que pode não ser de todo verdade: o de que Socrates tem ideologia. Mas esse é já uma outra discussão...
Pois ia para falar disso - a ideologia de socrates chamase burocracia.. o que me leva, uma vez mais, a conclusao de que ele e socialista (= burocrata moderado)
"Pois ia para falar disso - a ideologia de socrates chamase burocracia.. o que me leva, uma vez mais, a conclusao de que ele e socialista (= burocrata moderado)"
Ok, embora a cloagem à imagem de burocracia é algo que concorde, já ligar burocracia a socialismo discordo profundamente. O socialismo (na vertente de social democracia que defendo) é sem duvida algo que em nada está ligado à burocracia.
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