Entrevista a Jose Miguel Júdice - in arquivo electrónico - centro de documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra

Para avivar memórias junto um extracto de uma entrevista que já ninguém se recorda. E este senhor foi condecorado em 10 de Junho pelo Presidente da República. Ainda há quem se lembre dos atentados bombistas nos carros de Democratas e assassinios a tiro nunca investigados. Um grupo terrorista que sediado em Espanha fazia incursões em Portugal. Agora é uma história esquecida

http://dn.sapo.pt/2005/08/17/nacional/a_cruzada_branca_contra_comunistas_e.html
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=ejjudice

José Miguel Júdice
"Portugal está numa fase que anuncia uma profundíssima decadência"

Veio de Coimbra e de um meio "rebelde", tinha um sonho para a África portuguesa que norteou os anos da sua juventude, bateu-se por ele, perdeu.Viveu os anos do PREC do outro lado da revolução, lutando contra ela, onde podia e com quem podia.
Texto de Maria João Avilez
- Que idade tinha no 25 de Abril?
JOSÉ MIGUEL JÚDICE - Tinha 25 anos.
P. - E fazia o quê?
R. - Comecei por ir para o Porto, montar o Movimento. Vivi lá dois, três meses, a montar estruturas, a criar delegações... sempre numa semiclandestinidade...
P. - Porquê numa semiclandestinidade?
R. - Porque havia a ideia de que éramos vigiados e veio a provar-se que havia uma vigilância muito intensa. Depois mudei-me para Lisboa, onde vim chefiar a organização socioprofissional do Movimento Federalista Português, que depois viria a transformar-se - após o célebre discurso de Spínola em 27 de Julho de 74 - em Partido do Progresso. Era uma tentativa desesperada de manter coisas... À medida que umas coisas iam morrendo, agarrávamo-nos a outras...
P. - Para vocês foi um golpe mortal esse discurso do general Spínola? O fim da ilusão?
R. - Foi terrível ouvi-lo dizer que a independência é o caminho natural da autodeterminação. Não abandonei pura e simplesmente nessa altura a actividade política por solidariedade para com as pessoas com quem estava. Mas a razão essencial da nossa luta perdeu todo o sentido e isso fez com que me tivesse afastado da luta política, embora não da luta pelo país. E depois, no 28 de Setembro, fui preso...
P. - Porquê?
R. - Porque havia aquela história da manifestação da maioria silenciosa com a qual estávamos de resto em desacordo, considerámo-la um erro absoluto. Mas quem estava connosco achava que não havia alternativa senão apoiar Spínola e, assim, entendemos que não valia a pena ter razão. Fui a Coimbra convencer as pessoas que não queriam aderir a vir para Lisboa, o Pacheco de Amorim foi para o Porto fazer o mesmo. E, obviamente, fomos para a chacina, visto tudo aquilo ser um disparate. Estive três meses em Caxias. Fui solto e no 11 de Março voltei a ser preso, embora nada tivesse a ver obviamente com tudo o que ocorreu. Em Agosto fui demitido da função pública e em vez de ir para o Brasil como era suposto, fui para Espanha trabalhar no departamento político do MDLP, tentando salvar o que era possível ser salvo.
P. - O que era o MDLP? Exactamente?
R. - Na altura, um movimento político chefiado por Spínola, o Movimento Democrático de Libertação de Portugal. Era uma tentativa de criar condições para resistir ao hipotético golpe comunista que se dizia que ira ser desencadeado. Digamos que era uma força de resistência popular.
P. - Financiada por quem?
R. - Havia quem tratasse disso, não era o meu pelouro...
P. - ... mas o dinheiro aparecia?
R. - Sim, embora o meu ordenado me permitisse comer e dormir mais ou menos por caridade... Eu vivia numa Casa de Santa Zita em Espanha, pagando uma renda baixíssima. No fundo, vegetávamos...
P. - Mas acreditava naquilo que fazia, havia uma fé ou tratava-se de um mal menor?
R. - Quando se vê tudo a soçobrar, os pessimistas desistem, os optimistas agarram-se ao que têm...
P. - ... mas você está longe de ser um optimista!
R. - ... as dificuldades estimulam-me!
P. - Isso é diferente de ser um optimista...
R. - Eu achava possível evitar que o comunismo tomasse conta de Portugal - e o comunismo para mim era uma coisa complicada... Portanto, fiquei ali no meu terreno a fazer na minha trincheira o combate que podia fazer. Era sobretudo um trabalho intelectual, de elaboração de estudos.
P. - Por exemplo?
R. - Fizemos um projecto de Constituição, um esquema de Organização Administrativa do país...
P. - Fizemos... quem?
R. - Não devo ser eu a revelar esses nomes, eles um dia o dirão se assim o entenderem. Houve muita gente que foi do MDLP e que não o afirmou, não o revelou, porque julgou melhor assim... Mas nada tem de vergonhoso, algumas dessas pessoas correram até grandes riscos em Portugal ao fazerem esses trabalhos teóricos.
P. - Também havia os trabalhos práticos, como por exemplo os incêndios das sedes comunistas...
R. - Penso que isso não foi o que se chama organizado, foi algo que rebentou. Aliás eu fui para Espanha já na fase final desse processo, no final de 75, e havia estudos teóricos sobre a política de alianças, sobre se houvesse um golpe de Estado como é que deveria reagir, como se organizaria o regime transitório, etc.

Um comentário:

António disse...

O José Miguel Júdice foi preso depois do «28 de Setembro» de 1974 e depois do «11 de Março» de 1975, por envolvimento contra-revolucionário da Revolução Libertadora do 25 de Abril de 1974. Ainda à dias, na SIC_NOTÍCIAS, na entrevista com o jornalista António José Teixeira, não deixou de debitar o seu ódio ao Partido Comunista que, ele, José Miguel Júdice, combateu no PREC, ao lado ELP e MDLP. A Revolução Triunfou e JÚDICE saíu derrotado! Viva o 25 de Abril, Fascismo Nunca Mais!