Museu Salazar ou uma especie de Sebastianismo...

Neste último fim de semana uma pequena manifestação chamou a minha atenção. Essa pequena terra - Santa Comba Dão - foi palco de uma manifestação e contra-manifestação. Sobre a legitimidade ou não do museu já muito foi escrito e pouco mais tenho a acrescentar. No entanto este evento é exemplificativo de uma caracteristica tão típica dos "tugas": o Sebastianismo.

António Oliveira Salazar foi elevado a condição de novo D. Sebastião que curará todos os "males" deste mundo "tuguês". Ele e os seus ideiais são a formula mágica para os nossos problemas, pelo menos para uma clara minoria da população portuguesa. No entanto até a escolhermos as nossas figuras miticas somos mediocres. É que ainda não existiu um estudo isento desta personagem portuguesa senão vejamos:

1) A maioria dos seus apoiantes começam por se referir ao periodo de Salazar com "nem tudo foi mau". Mas que raio de começo é este para caracterizar esta figura mitica para muitos. Nem tudo foi mau é o que se inicia para definir alguém mediocre ou mesmo muito mau.

2) Ao contrário do miticismo criado à volta de Salazar ele não foi um bom economista. Podem me contrapôr com o facto do crescimento económico ter sido elevado em alguns períodos do seu "reinado", mas a verdade é que ele iniciou com Portugal mal e deixou Portugal em condições economica paupérrimas. Para além disso teve algo que qualquer economista/politico sonha: controlo de todos os factores económicos e politicos. Pelo que qualquer economista teria feito um trabalho tão bom ou melhor do que ele.

3) Outro miticismo é o facto de nos ter livrado da guerra. Então o que é que chamam à guerra colonial?

4) Muitos dizem "No tempo de Salazar não exitiu uma verdadeira ditadura." Deixei-me ver, existiu partido unico, existiu repressão da leberdade de expressão, de manifestações públicas de desacordo, o Estado controlava com mão de ferro o tecido economico, existia censura à publicação de livros, só existiu um governante durante cerca de 50 anos, e ponto fundamental, não existia eleições democraticas livres, bem se isto não define uma ditadura então devo estar perdido em termos de definição de ditadura.

5) E faltava a frase mítica "No tempo de Salazar é que era bom". Bem comparem todos os indicadores entre a "epoca de Salazar" e a actual e duvido que encontrem um que suporte esta afirmação. Esta é a frase tipica de quem não sofreu com o regime ou não vioveu nessa altura.

Estes são alguns dos factos que parece que ninguém espelha quando se faz um retrato histórico do homem que foi Salazar.

Mas não deixa de existir parecenças entre D. Sebastião e Salazar, ambos eram mediocres, foram atrás de uma causa inglória perdida à nascença e deixaram para trás um País numa crise dificil de ultrapassar. Também outro facto comum que os une é que não viveram para ver os erros que cometeram.

Quanto ao Museu, vivemos em democracia, se existem pessoas que o querem criar que o façam. Agora com dinheiro público custa-me um pouco, mas foram eles que votaram nos seus governantes, depois não se queixem que a autarquia não tem dinheiro e que a culpa é do Governo. É que para isso já não há paciência!!!

[Nota final: nesta história toda existem dois contradições na posição dos apoiantes de Salazar que me deixam estupefacto, (a) como é que apoiantes de Salazar se manifestam publicamente - Salazar era um ferroz opositor deste tipo de "ajuntamentos" e (b) como é que gastam 5 milhões de euros para fazer um Museu - é que Salazar nunca promoveu a cultura contra o "Poder instituido" e detestava desperdícios...]

2 comentários:

Memorias de um PIDE disse...

Tudo muito bem observado e verdadadeiro.

O fenómeno Salazar tem três vertentes:

- A necessidade de um lider carismático para uma revolução (28 de Maio) pois os militares achavam que o pessoal estva farte de tropas no poder;

- Uma necessidade de justificar uma restrição de liberdades e um empenho na reconstrução de uma economia sustentavel á custa do povo - Ele como Professor da Universidade de Coimbra tinha o perfi necessário e,

- Um homem tacanho, capaz de aceitar ordens de grupos capitalistas, dado o seu perfil eminentemente académico, a sua vida modesta e falta de ambição.


Ou seja, Salazar é um mito criado por aqueles que efectivamente detinham e detêm o poder.

Com Marcelo Caetano o assunto era diferente pois não era tacanho. Prof. Universitaário de Lisboa, a vida da capital o o facto de ter sido um dos meninos bonitos do regime deram -lhe outras nuances sofisticadas. Só que não aguentou o poder e o conflito com as élites capitalistas obrigaram estas a um golpe maquiavélico - planear a queda do regime ditaturial - lembrem -se que todo o mundo estava contra a politica colonial de Portugal e finaciavam os movimentos de libertação e consequentemente impediam o fluxo de capitais multinacionais para o Continente (Portugal)

Aí entra a PIDE e a CIA a utilizar os democratas capitães de Abril para uma sublevação, inicialmente de fora de reivindicação de condições e posteriormente,já política.

Assim deixaram os revolucionários (genuinos) fazer a revolução, contendo a reacção do Comandante Jaime Neves com a utilização da força para eliminar a sublevação militar, negoceiam com o Marcelo Caetano a fuga dos PIDES, Legionários, capitalistas etc.... e conseguem que os revolucionários tomem o poder com "cravos vermelhos"

Só que entre estes contavam -se alguns extremamente intiligentes e que souberam logo dominar a pseudo "Junta de Salvação Nacional" onde o General Spínola - um criminoso de guerra que matou centenas de inocentes na invasão da Guiné Conackri, fosse a figura de Estado e do pseudo poder - só que este não teve estômago para tal e foi-se embora...

Assim, aos PIDES E CIA só restava planear um outro golpe, para reaver o poder que durante 3 mêses andou á deriva e assim aconteceu.

O mário Soares deixou de ser comunista, passou a socialista e com o Sá Carneiro, conciliaram os interesses multinacionais e dá -se o regresso (planeado anteriormente) dos capitalistas que "fugiram para Espanha e Brasil", e das nacionalisações passou -se ás privatizações.

Foi um modo de matar TRÊS coelhos de um só golpe:

- Fazer fortunas com as privatisações;
- Ingressar no movimento incipiente da futura Europa - CEE - de que Mário Soares tinha contactos enquanto no exílio;
- Fazer que o investimento estrangeiroafluisse.

Atudo isto acresce os ganhos das vendas de armas para os movimentos em Angola - a antiga fábrica de Braço de Prata vendeu todo o stok de g3,munições e demais armamento,em troca de diamantes, o Estado Português deu avales aos recem criados Estados para permitir o respectivo finaciamento pelo Banco Mundial etc...

Prar contar a história era perciso um livro....

Quem fôr desiquilibrado ou paranoico continue a gritar " queremos Salazar" que , como diz o nosso Bloguista e muito bem , talvez em vez dele apareça o D. SEBASTIÃO....

Quem não goste de futebol, apitos dourados, pedofilias terá certamente outra opção no menu... o museu do Salazar onde se prevê que figure a cadeira de onde deu o tombo e o pequino que a Maria lhe levava á cama (isto é verdade).

Enfim o que é preciso é manter o povo entretido........ e a comunicação social é para isso!
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Memorias de um PIDE disse...

Ainda quanto ao papel da social democracia, não pode esquecer-se que a 15 de Setembro de 1975, apenas dois meses antes do golpe, o líder do Partido Socialista Mário Soares tinha denunciado publicamente, dando alento à conspiração da direita que se preparava na sombra, que Portugal corria o risco de converter-se "numa espécie de Cuba na Europa". Um pecado imperdoável ! Anos depois foi público o estreito entendimento então alcançado entre Mário Soares e Frank Carlucci, na altura embaixador dos EUA em Portugal e proeminente homem da CIA, para impedir que surgisse "uma nova Cuba", agora na Europa.
Carlucci em 1977 deixou de ser Embaixador dos EUA em Portuggal e passou a Director Geral da CIA
http://en.wikipedia.org/wiki/Frank_Carlucci