Durante bastante tempo nunca consegui agarrar uma forma de argumentação que, embora conseguisse saber exactamente o que era, não tinha encontrado uma imagem ou palavra que resumisse essa mesma táctica de argumentação.
Essa argumentação, normalmente aplicada na defesa de determinadas instituições, consistia em atribuir as qualidades positivas à Instituição em si e as negativas aos elementos particulares dessa mesma Instituição (embora seja utilizado para se defender conceitos, nesses casos não apresenta a mesma eficácia).
Assim esta retórica apresenta o mesmo comportamento de um cardume, que quando quer apresentar força apresenta-se como um todo quase indivisível. Nesse momento não existe indivíduos mas apenas a Instituição. No entanto se esse todo é atacado (neste caso por um argumento), o todo quebra-se na zona em que foi atacado, podendo sacrificar algumas das suas unidades individuais para elevar a sobrevivência do cardume. Assim assistimos à individualização dos elementos do cardume no momento desse ataque.
Tal retórica é bastante visível por exemplo nas discussões sobre a ICAR. Quando se trata de falar dos benefícios que a mesma tem na sociedade, os seus indivíduos são incorporados no todo e falam na ICAR (o “cardume” neste caso), quando se fala de acções negativas (p.e. encobrimento dos actos de pedofilia) então argumenta-se que é acção do individuo/indivíduos que tal não espelha a verdadeira natureza do mesmo.
O problema típico desta linha de argumentação é que a mesma falha, quase sempre, na coerência racional (ou dita de uma forma mais prosaica, é um argumento irracional). Seguindo ainda o exemplo que dei anteriormente, se a pessoa argumenta que a acção reside no todo, então ela, independentemente de ser uma acção positiva ou negativa, tem de se manter no todo para se manter um argumento coerente. Se por outro lado o argumento é que a acção é individual, então ela tem de se manter a nível individual ao longo da argumentação sob pena de se tornar um argumento incoerente e ilógico.
A Retórica do "Cardume"
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