Raquel Freire, o clítoris e a polémica…

Parece que em plena Antena 1 num programa de manhã a Raquel Freire disse, no contexto desse programa:

“(…) Deixo um desafio a todas as mulheres que me ouvem: descubram o vosso clítoris, daqui até à próxima semana. E masturbem-se. E vejam como é bom. E queria terminar com um convite aos homens: quando estiverem com uma mulher, descubram o clítoris dela. E percebam. Acho que no século XXI já é preciso que as mulheres e os homens saibam que existe um orgasmo feminino e que ele é tão importante e maravilhoso numa relação sexual como um orgasmo masculino (…)”

O que, ao que parece, fez com que um ouvinte protestasse afirmando que:

“Hoje, às 09h 50, dia 16 de Março, ouvi a senhora Raquel Freire a dizer na rádio pública para as mulheres se masturbarem uma vez por dia. Repito: às dez da manhã. Acabam de perder um ouvinte. Vocês não têm respeito pelas crianças. Essa senhora devia ser despedida. Ou retratar-se. É escandaloso este tipo de serviço público. Como se explica isto a uma criança que está a ouvir rádio? Repito: cá em casa ninguém ouve mais a Antena 1. (bolds da minha autoria)

Ora antes de abordar este protesto, gostava de referir que o que a Raquel Freire fez foi um acto de altruísmo. Pelo menos é o que apelido a alguém que dá um conselho, bom ainda por cima, sem esperar nada em troca e sem que lhe fosse exigível o mesmo. É verdade que preferia que esse mesmo acto fosse inútil por já não existir essa necessidade, no entanto reconheço que ainda não vivemos nessa momento.

Posto isto gostaria então de comentar este protesto, ou pelo menos partilhar o que penso do mesmo. A primeira parte intrigante para mim é alguém considerar o que aconteceu ser “escandaloso”. Numa fase em que a palavra escândalo, e seus derivados, está em alta, não consigo associar essa palavra às palavras que a Raquel proferiu.

Outra coisa intrigante é o pedido de retratação que este ouvinte faz (sobre o pedido de despedimento não é intrigante. É simplesmente parvo). Uma pessoa para se retratar teria que ter feito algo de errado. E o que é que o ouvinte viu de errado? Será que a masturbação é algo de errado? Será que o próprio ouvinte não se masturbou? E tendo feito acha que fez alguma coisa de errado? Será que o pedido que a Raquel fez é algo de errado? A única coisa de errado é que esse pedido ainda faça sentido no século XXI, pois julgo que cerca de 10.000 anos de humanidade seria suficiente para o ser humano (homem ou mulher) descobrir o clítoris e a importância do mesmo para o prazer. Será esse prazer errado? Não estou a ver como…

Passemos então à terceira coisa intrigante para mim, a questão das crianças. Parece-me que esta foi o centro do problema para este ouvinte, pelo menos pelo que disse. E é isto que não entendo. Será que ele não tem o mínimo de discernimento para perceber que o publico alvo desta estação não é propriamente as crianças? Por outro lado de hora a hora lá vem as noticias, que contém informação bem violenta para uma criança. Será que isso também devia de ser censurado? Aliás por que raio é que a ignorância é a melhor forma de educar uma criança? Não deveria a pedofilia, o roubo, o assassinato serem temas mais difíceis de explicar a uma criança?

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