Existem livro que são assim, nos fazem questionar sobre o mundo. O mundo do livro, o mundo do autor, o nosso mundo e os mundos dos outros...
Uma questão, que agora vejo que era superficial, era porque motivo existia uma maior propagação de Orwell de que Huxley? Sei agora que, embora superficial, era uma pergunta importante. Mas necessitei da leitura completa do livro para ter essa noção.
É que, enquanto o "socialista" Orwell cria uma realidade externa a nós próprios, algo que todos nós podemos apontar o dedo, o "conservador" Huxley cria uma obra ao mesmo tempo estranha e intimista. É dificil ler a obra de Huxley e não nos olharmos um pouco ao espelho. De não revermos um pouco em que é que acreditamos e porque é que acreditamos. Lemos com um misto de censura e fascínio, e nesse paradoxo temos a sensação de querer fugir a esta realidade bem mais real que o mundo orwelliano.
E no entanto, que melhor sitio e tempo para ler esta obra, do que Portugal do Sec. XXI. Esse local onde a pressão social é suficientemente forte para normalizar o individuo, mas onde a liberdade económica nos permite obter a satisfação de viver num maravilhoso mundo novo tecnológico e guardar uma pouco da nossa individualidade vivida em comunidade. Onde o ideal de beleza eterna é cultivado por esses ginásios fora, e onde ser saudável é alvo de culto e são olhados com estranheza todos os amantes de vicios polutos como o tabaco. Onde, quando tu sentes uma profunda tristeza, ou solidão, ou qualquer uma dessas emoções proscritas, te é diagnosticado uma leve depressão, ou um esgotamento, e te dão um pouco de felicidade embrulhados em forma de comprimidos Prozac ou Valium, que não é mais que o equivalente moderno do Soma!
5 comentários:
Admirável Mundo Novo? Ainda falta muito... (mAs já faltou mais!)
Estou a ler "As origens do totalitarismo" de Hanna Arendt.
Ainda estou no começo. MAs fica desde já uma ideia: os totalitarismos "à 1984" não têm pernas para andar. Embora consigam fazer dos cidadãos um bando de carneiros, a economia colapsa. O que é de esperar, se nas constantes purgas vão eliminando as pessoas mais letradas. Para exemplo temos (provavelmente) a Coreia do Norte, que é regida por uma ditadura feroz e tem uma economia (ou "economia") de rastos.
Provavelmente os futuros totalitarismos tentaram usar métodos à "maravilhoso mundo novo". Embora economicamente mais dispendioso, consegue-se um grande controlo sobre as consciencias, com a concordância das pessoas.
Oi,
desculpa o meu atraso...
"Admirável Mundo Novo?" Sim e não.
Não porque se trata de uma ficção que embora genial será sempre uma ficção. Sim porque quem o escreveu encontrou padrões e imaginou um futuro no qual esses padrões fossem levados a um extremo. Daí obviamente tanto este como o 1984 nunca existirão.
Sim porque alguns dos padrões efectivamente existem dentro de nós. O condicionamento é um, que embora não seja da mesma forma tem o mesmo efeito (vê o efeito da publicidade). A pressão social (e não de estado central) para uma normalização também existe. E muitos outros exemplos.
Quanto ao "1984" eu julgo que existe uma falha enorme de analise. Se é verdade que a imagem e a história é um ataque a Estaline, não esquecer que a optica do livro é a do Partido, isto é, nesse sentido não é identico a uma ditadura comunista. Naquele mundo apenas os membros do partido é que vivem nesse regime, o resto da população vive num regime mais ou menos livre que não é idêntico ao regime comunista. Portanto julgo ser perfeitamente exequivel. No entanto adorei o exemplo da Coreia pois é sem duvida o caso mais parecido, eles até têm uma televisão em casa como no caso do 1984!
Os totalitarismo à la Huxley já existem (o PSD foi um bom exemplo - ao que parece PPC vai para os "paraisos" das suas empresas) e honestamente vivemos neste momento uma forma de "totalitarismo" muito sui generis: o "totalitarismo" ausente. Isto é, por nos desligarmos da politica ficamos à mercê da vontade de uns quantos que mandam à vontade.
Boa análise. De qualquer forma os livros de que falamos são, e bem observados, ficções. MAs vejo-os como uma metáfora de um futuro possivel. E é isso que assusta.
É mesmo para assutar ;-)
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