Na esplanada...

Estava sentado na minha habitual esplanada. Fazia sudoku, enquanto bebia o meu café e fumava um cigarro.
Entretanto um casal chegou. Ou melhor, chegou primeiro os seus cheiros a banho e perfume, do que eles. A acompanha-los estava um rotweiller açaimado - uma raridade em Lisboa - e o seu filho. Eram uma típica famíia d classe média de Lisboa.
Para além do cheiro e do cão, nada me despertava a atenção e continuei no meu jogo, até que, uma voz aguda e exageradamente audível quebrou a minha concentração:
- "Pai, quero um gelado"
O pai, prevendo o rol de exigências do seu filho, levantou-se vagarosamente e deslocaram-se até ao cartaz dos gelados:
- "Quero este!" disse a miniatura de homem, apontando para o seu gelado favorito
- "Não há"
- "Quero este" voltou a repetir
- "Não há! Mas como este - o Epá - que é muito bom!"
E antes que o seu filho voltasse a falar, abriu a arca onde estavam os gelados, tirou o Epá e voltou para o seu lugar. A mãe mantinha-se silenciosa.
No entanto o filho não se deu por vencido com o gesto do seu pai. Manteve-se junto ao cartaz e começou a pedir de uma forma cada vez mais audível:
- "Pai, quero este!"
Vendo-se ignorado pelo seu pai, decide mudar de interlocutor:
"mãee..."
"Mmãee..."
"MMÃÃÃEEE..."
Cada vez mais alto e agudo, começando a transformar a sua voz de criança numa voz estridente de sirene.
Decido então olhar para a reacção dos seus pais. Ambos olhavam para o infinito, como se meditassemm ignorando por completo o mindo à sua volta. Eram os unicos, pois todos os outros, comigo incluido, não podiamos ignorar aquela voz aguda, suplicante a pedir a atenção dos seus pais...

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