Ao contrário do que fiz para as Europeias de 2009, não criarei nenhum dossier temático para estas legislativas. Esta decisão prende-se com dois factos: (a) a pouca utilidade do mesmo dado que, ao contrário das Europeias, existe uma melhor cobertura das mesmas; (b) a péssima qualidade que existe nos partidos a concorrer.
Estas legislativas são das mais importantes que tivemos na história da nossa democracia. O contexto actual mundial deu-nos a oportunidade para decidirmos no meio da crise qual das diferentes correntes queremos à frente do poder para tentar dar a volta à crise. Aliás não é só dar a volta a crise que é importante. As crises revelam-se épocas douradas de oportunidades, e esta, pela dimensão que tem dá-nos a possibilidade efectiva de recolocar Portugal num caminho de desenvolvimento, bastando para tal sabermo-nos posicionar correctamente.
Posto isto, deveria ser a altura em que os partidos, afinavam agulhas e traziam ao de cima o melhor que existe dentro deles. Infelizmente não o está a ser. Aliás em alguns caso existiu precisamente o oposto. Posto isto, e dado que julgo que a vida não termina nestas eleições, deixarei aqui a minha breve análise dos partidos, do período e da linha de raciocinio para decidir o meu voto.
Começarei a minha análise pelos pequenos partidos (MEP e MMS). Claramente são a grande lacuna nestas eleições. Provavelmente irão aparecer na recta final desta campanha, mas depois de tanto "fogo de artifício" nas Europeias, esperava muito mais deles nestas eleições. Não me deslumbraram nas anteriores eleições, o MEP é um partido cristão pelo qual não nutro simpatia e o MMS é uma verdadeira lição do que não fazer quando se cria um Partido. É pura e simlpesmente um ajuntamento de pessoas e ideias sem nenhum nexo racional.
Em seguida analisarei os dois partidos, que por razões ideológicas se encontram fora da minha esfera de votação: CDS e PCP.
O PCP revelou a sua verdadeira face nas ultimas eleições. É um partido nacionalista-comunista e cuja imagem estalinista é cada vez mais visível. Toca ao de leve a democracia, e embora respeite muito os apoiantes do PCP, toda a sua estrutura partidária é um deja-vu ditatorial. Insiste em não se renovar e espero que perca espaço eleitoral.
O CDS é uma das supresas mais desagradáveis desta campanha. Revelou claramente a sua faceta populista e conservadora, e segue o caminho do autoritarismo. Os seus cartazes estão ao nível do PNR e a cada campanha aproximam-se mais ideologicamente dos mesmos. Gostaria apenas que a votação seguisse esse caminho também. Nunca imaginei que um partido que já foi poder se permitisse seguir esse caminho. Um caminho sem retorno, pois a partir de agora, qualquer discurso mais democrático apenas é uma maquilhagem do "monstro" que cresce dentro dele: o autoritarismo ditatorial.
Passemos então aos dois partido de poder: o PSD e o PS.
Começo pelo PS. Julgo que perderam a oportunidade de fazer algo único em politica: uma renovação de liderança numa conjuntura de maioria absoluta. Isso revelaria uma maturidade democrática sem paralelo na história portuguesa (e talvez mundial). Vou ser claro, muito do que este governo fez foi bem feito e de extrema importância para o país. Se retirarmos todo o ruído de fundo e lama que foi sendo atirada, verificaremos que hoje estamos muito melhor do que em 2005. Não tenho "memória de peixe" e ainda me lembro dos governos (Durão Barroso e Santana Lopes) anteriores e este é sem dúvida um melhor governo. No entanto para mim politica é sinónimo de pessoas, e existiram vários incidentes que para mim ultrapassaram o que acho o mínimo da razoabilidade de viver em democracia e em sociedade. Resumindo, um princípio base para mim, e que não abdico, é que os fins não justificam os meios. Este é o principio base que nos permite viver numa sociedade livre e justa. Existem principios e valores pelos quais me guio, e por mais minimalistas que sejam, são principios dos quais eu não abdico mesmo que esteja em causa a destruição da sociedade, pois abdicar dos mesmos significa per si a destruição da sociedade que defendo. E o respeito pelas pessoas e pela sua dignidade é uma delas. Nunca tinha estado numa situação destas, sei que ao não votar estrei a contribuir para um possível periodo de instabilidade ou mesmo para um governo (caso o PSD ganhe) contra os meus valores. No entanto sei perfeitamente que são nestes momentos que temos de assumir quais são as nossas opções, e a minha passa por não desculpabilizar ou esquecer actitudes que são indesculpáveis, mesmo que a consequência seja pior.
E agora o PSD. Honestamente não sei o que dizer, nem sei como é que este partido terá tantos votos (mais de 10% é um exagero para mim). Se tivesse escrito o que não queria que acontecesse no PSD não teria imaginado (e até julgo que tenho uma forte imaginação) tanta asneira junta. O PSD actualmente é um fantasma de partido, isto é, é algo que apenas as pessoas envolvidas no seu "misticismo" conseguem o ver. Não tem programa, não tem voz, não tem mais nada do que uma líder. Uma líder autoritária, que aniquila as vozes contrárias a ela e que segue um rumo que só Deus sabe qual é (não esquecer que sou ateu). Neste momento é o herdeiro da União Nacional (partido de Salazar). Tem um mote religioso (Politica de Verdade é decalcado da Igreja Católica), ultra-conservador , anti-liberal, anti-democrático e corporativista. Julgava que 40 anos de ditadura nos tinha dado os anti-corpos suficientes para estarmos imunes a este tipo de politica, parece que não!
Resta então o BE. Se votar em algum partido votarei em Bloco de Esquerda. Mas tenho mesmo muitos problemas em o fazê-lo. Porquê? Porque continuo a ver um partido que é um "lobo vestido de carneiro". Se concordo com muito do que eles defendem, a verdade é que quando ouço com atenção o que dizem, fico assustado. Exemplos: a maneira comoo Louça descreve o que irá fazer se tiver votos suficientes para ser importante, é profundamente anti-democrático. Ele até agora deu a entender que só votará a favor de posições identicas à do seu programa, o que se traduz na imposição do seu programa sobre programas que receberam mais votações. Se eu concordo que existem principios dos quais ele não pode abdicar, já vejo de muito dificil explicação o votar contra este Código de Trabalho (que não ataca os principios que ele defende) ou contra uma possível a privatização parcial das AdP. Por outro lado, mesmo pensando assim, por enquanto estou inclinado a votar BE. Por um simples facto, reconheço que ele tem feito um trabalho positivo e que mais cedo ou mais tarde o BE terá que ter alguma importância para sabermos se é mesmo um "lobo vestido de cordeiro", ou um partido com capacidade de governação.
Resumindo, julgo que estas legislativas foram uma supresa muito desagradável para mim. Se sou naif o suficiente para ter estado à espera de actitudes positivas por parte dos partidos no meio desta crise, sou pragmático o suficiente para saber que a reacção que aconteceu, no meio desta crise, é a normal que acontece. Não é a primeira vez que, como reacção a uma crise profunda a direita encontra a sua solução no autoritarismo, a esquerda radical no nacionalismo proteccionista e que quem está no poder não abdica do mesmo.
Só imaginava que a história passada e principalmente os erros do passado serviram para aprendermos...