Enquanto é fácil distinguir que o liberalismo e o conservadorismo em Portugal são duas correntes diferentes, diria mesmo opostas, sempre me foi difícil compreender porque é que algumas (infelizmente muitas) pessoas gostam de se apelidar desse “animal mitológico” que tem o nome de “Liberal-conservador” (o Insurgente é talvez o exemplo mais mediático na blogoesfera).
Ora um “liberal-conservador” é algo que não existe em Portugal, pela impossibilidade de conciliação entre o que ambas ideologias defendem. O primeiro – o liberal – defende acima de tudo a liberdade individual, e fá-lo tanto no campo económico como no campo social. O segundo – o conservador – defende acima de tudo os valores que a sociedade tem e que são legado do passado, da tradição. Ora, enquanto estes dois conceitos poderão ser algo conciliáveis em sociedades com um passado profundamente liberal (como a americana), tal é impossível na sociedade portuguesa, que não tem um passado enraizado de liberalismo, mas apenas alguns episódios esporádicos.
Assim, e em Portugal, enquanto o liberal tenta transpor novos valores para a sociedade (e daí não ser conservador), o conservador tenta manter os valores da sociedade portuguesa (e daí não ser liberal).
Então, a questão que se coloca é a seguinte: o que motivará uma pessoa a se apelidar “Liberal-conservador” em Portugal?
Para isso precisamos de analisar os valores do liberalismo e quais os valores tradicionais em Portugal.
Como disse anteriormente, o liberal defende a liberdade individual, é este o seu foco de atenção. E é a partir desta unidade – o individuo – que constrói a sociedade. Isto é, para o liberal, o indivíduo é a unidade fundamental da sociedade, todas as leis visam atribuir a liberdade ao mesmo.
Já os valores tradicionais portugueses, não são liberais mas sim católicos. Estes valores deveriam ser necessariamente vistos como incompatíveis aos valores liberais. Sendo que a maior incompatibilização é a diferença que existe na unidade fundamental da sociedade, que nos valores católicos não é o individuo mas sim a família (que é uma colectividade).
Ora, logo nesta questão fundamental um conservador não é um liberal em Portugal. Para ele a unidade fundamental é a família tradicional, opõe-se a qualquer alteração deste conceito (casamento entre pessoas do mesmo sexo, adopção de filhos por esses casais, etc…) e não reconhece ao indivíduo a sua liberdade individual social (opondo-se à eutanásia, consumo livre de estupefacientes, aborto, etc…) pois consideram-nas uma ameaça à unidade familiar e valores tradicionais, suprimindo desta forma o indivíduo.
No entanto, o que poderia ser um obstáculo ao “liberal-conservador”: compatibilizar esta dualidade entre indivíduo e colectividade (família), é, em Portugal, fácil (diria mesmo instantâneo), e emana dos nossos valores tradicionais. O conceito de família é ainda um conceito patriarcal. A família, embora colectividade, é personalizada numa pessoa – o Homem. Assim, a visão que o “liberal-conservador” tem da família não é a de uma colectividade igualitária, mas sim a de individualidade – a família personificada no “chefe de família”. Desta forma, para o “liberal-conservador” é totalmente compatível a noção de família como unidade fundamental na sociedade e argumentar favoravelmente pela liberdade “individual”.
Mas se até agora dei apenas razões para os “liberais-conservadores” aceitarem essa designação, a verdade é que até agora não teriam qualquer motivação para se designarem de “liberais” ou quererem pertencer à família liberal.
A motivação nasce da mesma “fonte” que nasce o conservadorismo português: o medo da mudança. Um conservador é tipicamente uma pessoa com medo, e tem necessidade de minimizar esse medo, de encontrar uma segurança (e daí a segurança ser um tema mais importante para os “liberais-conservadores” do que a própria liberdade), agarrando-se para tal aos valores que já conhece e com que está confortável.
Opõe-se a qualquer ameaça a esses valores. E para ele não existe maior ameaça do que o Estado. Ele sente o Estado como algo externo a ele próprio, à sua família, algo que ele não pode controlar e que por isso pode pôr em causa os valores tradicionais da sociedade.
Desta forma procura instintivamente a ideologia que minimiza o Estado, e encontra-o no liberalismo económico. E em Portugal, esta teoria fá-lo atingir os seus dois maiores objectivos: diminuir a ameaça do Estado, e manter o “statuos quo” da sociedade (isto é, os valores tradicionais). Como? O liberalismo económico desprovido do liberalismo social, faz com que economicamente vinguem os mais “aptos”(1) isto é, na família o homem, na sociedade os conservadores.
O “liberal-conservador” não vê no liberalismo económico um instrumento para aumentar a liberdade individual em Portugal, mas sim usa-o de forma utilitária para manter os valores tradicionais (que é o seu fim máximo).
Ou seja o “liberal-conservador” em Portugal é um mero conservador e não tem nada de liberal. Apenas utiliza esta palavra (“liberal”) para se definir economicamente perante os outros conservadores (2), mas não por se integrar na família ideológica do liberalismo.
(1) Aptos aqui significa os detentores do poder material.
(2) Sintomático disto é o facto de não termos nenhum partido na família liberal europeia
Ora um “liberal-conservador” é algo que não existe em Portugal, pela impossibilidade de conciliação entre o que ambas ideologias defendem. O primeiro – o liberal – defende acima de tudo a liberdade individual, e fá-lo tanto no campo económico como no campo social. O segundo – o conservador – defende acima de tudo os valores que a sociedade tem e que são legado do passado, da tradição. Ora, enquanto estes dois conceitos poderão ser algo conciliáveis em sociedades com um passado profundamente liberal (como a americana), tal é impossível na sociedade portuguesa, que não tem um passado enraizado de liberalismo, mas apenas alguns episódios esporádicos.
Assim, e em Portugal, enquanto o liberal tenta transpor novos valores para a sociedade (e daí não ser conservador), o conservador tenta manter os valores da sociedade portuguesa (e daí não ser liberal).
Então, a questão que se coloca é a seguinte: o que motivará uma pessoa a se apelidar “Liberal-conservador” em Portugal?
Para isso precisamos de analisar os valores do liberalismo e quais os valores tradicionais em Portugal.
Como disse anteriormente, o liberal defende a liberdade individual, é este o seu foco de atenção. E é a partir desta unidade – o individuo – que constrói a sociedade. Isto é, para o liberal, o indivíduo é a unidade fundamental da sociedade, todas as leis visam atribuir a liberdade ao mesmo.
Já os valores tradicionais portugueses, não são liberais mas sim católicos. Estes valores deveriam ser necessariamente vistos como incompatíveis aos valores liberais. Sendo que a maior incompatibilização é a diferença que existe na unidade fundamental da sociedade, que nos valores católicos não é o individuo mas sim a família (que é uma colectividade).
Ora, logo nesta questão fundamental um conservador não é um liberal em Portugal. Para ele a unidade fundamental é a família tradicional, opõe-se a qualquer alteração deste conceito (casamento entre pessoas do mesmo sexo, adopção de filhos por esses casais, etc…) e não reconhece ao indivíduo a sua liberdade individual social (opondo-se à eutanásia, consumo livre de estupefacientes, aborto, etc…) pois consideram-nas uma ameaça à unidade familiar e valores tradicionais, suprimindo desta forma o indivíduo.
No entanto, o que poderia ser um obstáculo ao “liberal-conservador”: compatibilizar esta dualidade entre indivíduo e colectividade (família), é, em Portugal, fácil (diria mesmo instantâneo), e emana dos nossos valores tradicionais. O conceito de família é ainda um conceito patriarcal. A família, embora colectividade, é personalizada numa pessoa – o Homem. Assim, a visão que o “liberal-conservador” tem da família não é a de uma colectividade igualitária, mas sim a de individualidade – a família personificada no “chefe de família”. Desta forma, para o “liberal-conservador” é totalmente compatível a noção de família como unidade fundamental na sociedade e argumentar favoravelmente pela liberdade “individual”.
Mas se até agora dei apenas razões para os “liberais-conservadores” aceitarem essa designação, a verdade é que até agora não teriam qualquer motivação para se designarem de “liberais” ou quererem pertencer à família liberal.
A motivação nasce da mesma “fonte” que nasce o conservadorismo português: o medo da mudança. Um conservador é tipicamente uma pessoa com medo, e tem necessidade de minimizar esse medo, de encontrar uma segurança (e daí a segurança ser um tema mais importante para os “liberais-conservadores” do que a própria liberdade), agarrando-se para tal aos valores que já conhece e com que está confortável.
Opõe-se a qualquer ameaça a esses valores. E para ele não existe maior ameaça do que o Estado. Ele sente o Estado como algo externo a ele próprio, à sua família, algo que ele não pode controlar e que por isso pode pôr em causa os valores tradicionais da sociedade.
Desta forma procura instintivamente a ideologia que minimiza o Estado, e encontra-o no liberalismo económico. E em Portugal, esta teoria fá-lo atingir os seus dois maiores objectivos: diminuir a ameaça do Estado, e manter o “statuos quo” da sociedade (isto é, os valores tradicionais). Como? O liberalismo económico desprovido do liberalismo social, faz com que economicamente vinguem os mais “aptos”(1) isto é, na família o homem, na sociedade os conservadores.
O “liberal-conservador” não vê no liberalismo económico um instrumento para aumentar a liberdade individual em Portugal, mas sim usa-o de forma utilitária para manter os valores tradicionais (que é o seu fim máximo).
Ou seja o “liberal-conservador” em Portugal é um mero conservador e não tem nada de liberal. Apenas utiliza esta palavra (“liberal”) para se definir economicamente perante os outros conservadores (2), mas não por se integrar na família ideológica do liberalismo.
(1) Aptos aqui significa os detentores do poder material.
(2) Sintomático disto é o facto de não termos nenhum partido na família liberal europeia
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