Termino agora o Dossier Europeias 2009. Nas ultimas duas semanas tentei (embora admito escassamente) escrever artigos que pudessem dar alguma informação extra e que pudesse contribuir um pouco para uma maior esclarecimento sobre o funcionamento da União Europeia, nomeadamente do seu Parlamento Europeu e das ideias que os vários partidos europeus que concorrem em Portugal defendem. Julgo que muito ficou por se dizer e escrever, resta-me então fazer a minha ultima “reflexão” antes de entrarmos no periodo propriamente dito.
Começo pela minha intenção de voto. Embora não seja nenhuma surpresa para quem me acompanha nestas lides bloguisticas, e não só, a minha escolha acabou por ser uma surpresa para mim. O meu voto vai ser no Partido Socialista, e embora tenha muitos motivos, o principal foi o facto de estar a votar no Partido Socialista Europeu, que dos três unicos partidos que se apresentam às urnas em Portugal é o mais próximo do que eu defendo para Europa, e também dos três o mais preparado e coeso. Tenho pena que o grupo dos Liberais (a ALDE) não tenha um representante em Portugal pois aí a decisão seria muito mais dificil (bem, ou talvez não).
Comecemos então a reflexão, primeiro a nivel nacional, neste caso pela campanha. A campanha eleitoral foi má. Optimista como sou estava à espera de mais, no entanto julgo que ficou claro que a mudança ainda vai demorar muito a ser implementado. Um primeiro problema foram os media. Muito do acesso à informação de campanha em Portugal é feita através destes e ao escolherem as “tricas” entre candidatos acabam por dar uma imagem que não corresponde à realidade total da campanha. Existiu iniciativas por alguns orgãos dos media, mas foram manifestamente insuficiente e tudo fizeram para “incendiar” os animos da campanha. O incidente do “imposto europeu” foi um perfeito exemplo. A afirmação do Vital foi claramente provocada pelo jornalista.
Mas serão eles os grandes responsáveis? Bem, primeiro não existe um grande responsável, todos fomos responsáveis. No caso dos candidatos, se é verdade que os media cobriram muitas vezes empolaram ou pressionaram, a verdade é que os candidatos fizeram essas afirmações e na maioria das vezes por sua iniciativa e plenos de consciência que essa actitude lesava a campanha. O caso BPN foi utilizado pelo PS e pelo PSD para trocarem galhardetes e cada qual quis se transformar na “donzela virgem” da questão. Além disso a qualidade dos candidatos foi muito fraca e irresponsável. Julgo que não existiu um verdadeiro combate à abstenção e nenhum candidato quis realmente efectuar um esclarecimento à população. Por exemplo ainda hoje ouvi o Paulo Rangel dizer que tinha feito isso quando na realidade tinha acabado de utilizar os 5 minutos de tempo de antena para se promover epara fazer tudo menos isso.
Quanto ao presumivel resultado individual, julgo que vai ser irrelevante. Nem o PSD vai conseguir iniciar uma vertente de vitoria, nem o PS vai aniquilar o PSD, nem os votos de protesto vão servir para alguma coisa. A única coisa importante daqui é saber quantos deputados os três partidos europeu ganham no circulo eleitoral Europeu (analisarei mais à frente). Ou seja foi um enorme desperdicio de dinheiro nesta campanha, pois eu e vocês estamos a pagar para que os partidos nos possam esclarecer e não para que eles “afinem” as suas máquinas para as próximas eleições.
Uma nota final desta reflexão nacional, para falar de estratégia. Julgo que neste campo o PSD vai ser o grande perdedor (e é bem possível que a perda só se materialize nas legislativas). Primeiro porque apresentou-se sem projecto sólido, o que não é natural num partido “de poder” (tenho sérias duvidas que ainda o seja). Julgo que a gota de agua foi apresentar uma ideia (Erasmus-emprego) que não é original e que ainda por cima pertence ao grupo parlamentar oposto (pertence ao PSE). Depois, porque quis bi-polarizar o confronto nesta campanha europeia (PSD Vs PS) e muito possivelmente com isso consegue estancar a hemorragia que o PS estava a ter para o Bloco de Esquerda.
Agora iniciarei a reflexão europeia. Começo com as nossas eleições. Se a tendência se mantiver, vai existir um derrotado em Portugal: Partido Socialista Europeu. Este partido perderá 3 deputados do seu circulo eleitoral português (passa de 12 para 9). Por outro lado o vencedor será claramente a Esquerda Unitária que vê o seu numero de deputados aumentar de 3 para 4. Não esquecer que este ano o circulo eleitoral português perde 2 deputados pelo que o resultado em peso relativo é ainda maior. Tal significa (e se a tendência continuar) que Durão Barroso irá continuar e a politica europeia não mudará nos próximos 4 anos o que será muito mau para a União Europeia colectivamente e para os países individualmente.
Por outro lado, estes resultados acabam por reflectir um pouco do que é expectável de acontecer no resto da Europa: um aumento da abstenção e um maior peso de movimentos mais radicais (embora as tendências da radicalidade varie de país para país). E isto será talvez o ponto mais preocupante destas eleições. Se estas eleições forem indicadoras do movimento democratico futuro então espera-nos uma verdadeira tragédia. Da ultima vez que juntámos uma crise financeira, uma elevada abstenção e um “empowerment” de movimentos radicais e nacionalistas milhões de pessoas morreram e existiu uma guerra mundial.
Por outro lado, a elevada abstenção irá fazer com que no parlamento europeu exista um irrealista peso de “eurocépticos” o que vai ser muito mau. A União Europeia já ganhou um espaço importante no mundo e provou que os países unidos são muito mais do que as suas somas. Numa altura de crise as oportunidades têm de ser aproveitadas sob pena de danos irreparáveis, e numa altura que os USA vacilam seria a oportunidade perfeita para a União Europeia arrancar definitivamente. No entanto este eurocepticismo poderá fazer com que a União entre em sentido contrário e possa mesmo colapsar a médio prazo. O aumento dos eurocepticos no parlamento europeu, numa altura em que o parlamento poderá ganhar novos poder poderá ser um erro que nós iremos pagar bem caro. O grande beneficiário será os USA, o que não deixa de ser irónico, pois os eurocépticos que são tão anti-Obama poderão ser a chave do sucesso do Obama nos USA que irá potenciar ao máximo o espaço que a União Europeia não conquistar. Assim é com muita tristeza que vejo o partido Independentista subir ao segundo lugar no Reino Unido, que vejo os nacionalistas a ganharem poder no Reino Unido e na Holanda.
Gostaria de finalizar dizendo que na mesma Holanda veio talvez a melhor noticia destas eleições europeias até aagora, é que se é verdade que o partido da extrema direita ganhou 4 deputados, a verdade é que o D66 ganhou três deputados. Este partido representa o liberalismo-social na Holanda, corrente esta que é importantissima numa altura que os movimentos nacionalistas ganham poder eque honestamente espero que seja o futuro força alternativa de poder.
Quando o mundo (nomeadamente o Europeu) girar entre a social-democracia e o liberalismo-social então julgo que estaremos no rumo correcto. Se alguém tem ainda dúvidas basta olhar e analisar os países Escandinavos que são “lideres” em quase todos os indicadores: PIB per capita, Indice de Desenvolvimento Humano, mercado livre, pouca disparidade de riqueza, assitência médica, sistema escolar educativo e ascensão social.
Resta-me apenas dizer que espero que tenham gostado deste dossier, e desejar uma boa votação a todos. E sim, por favor vão votar na vossa opção. Estas eleições são possivelmente as mais importantes dos ultimos 20 anos!!!
Muito Obrigado a todos os que passaram por aqui, leram e/ou comentaram.
5 comentários:
Trabalho de fôlego, hein Stran!
Amanhã vou votar, mas olha, cantam bem mas não me alegram. Mas deixar a minha escolha a outros é que não, há sempre um mal menos mau do que os outros (uma tirada churchilliana).
O PS, grrrrrrrr, a camarilha deu cabo dele e há coisas que eu considero prévias a uma possível escolha. Não voto em quem não respeito, é tudo.
O relógio do teu blogue anda fora do tempo. São precisamente 23:15.
Lol!
Obrigado, foi mesmo cansativo e foi dificil manter a disciplina e não escrever sobre outros temas! Já tinha saudades dos teus comentários. Eu também fui votar (a 5 minutos do fim, um record pessoal) para decidir por mim e não evitar uma futura candidatura à presidência da republica ;)
"O PS, grrrrrrrr, a camarilha deu cabo dele e há coisas que eu considero prévias a uma possível escolha. Não voto em quem não respeito, é tudo."
Bem neste caso como estava a votar num partido europeu (no PSE e não no PS) não tive esse problema no entanto é liquido que nas legislativas não votarei PS, só não sei em quem...
"O relógio do teu blogue anda fora do tempo. São precisamente 23:15."
Mas assim evito levar um processo da empresa onde tabalho ;)
É verdade que a votação foi para o PE, mas por mim, fiquei satisfeita. Esse equilíbrio não sofreu muito e esta camarilha levou a lição de que precisava. Psicologicamente vai ter efeitos sobre os próprios e até nos eleitores. É bom.
Não me lembro de alguma vez ter tido uma reacção assim relativamente a uma vitória da direita, mas também não me lembro de alguma vez ter perdido totalmente o respeito por políticos como o perdi por esta gente. Por estar bem por dentro de um dos maiores conflitos que provocaram, apercebi-me da extensão e detalhe do cinismo, capacidade de mentira, descaramento, falta de lisura pessoal e política. Acho que não são saudáveis na política portuguesa, precisam de sair e ser substituídos por gente mais decente. O PS tem-nos, oxalá seja capaz de dar o salto, porque o carreirismo é uma chatice.
Também, a nível nacional fiquei satisfeito. E embora haja muitos foguetes nos lados dextros da nossa politica julgo que o grande vencedor foi o BE. Honestamente também estou contigo, embora não tenha conhecimento profundo sobre a coisa, no entanto com o que acompanhei na educação, com a mentira que existiu na campanha e com as actitudes que foram existindo julgo também que é altura de o PS ressurgir (julgo que vai ter quatro anos para o fazer) e também concordo que poderá fazê-lo.
"Por estar bem por dentro de um dos maiores conflitos que provocaram, apercebi-me da extensão e detalhe do cinismo, capacidade de mentira, descaramento, falta de lisura pessoal e política."
Agora é que me mataste... Não sei se sabes mas sou um curioso nato e imagino que não vais poder alongar, mas agora não vou conseguir deixar de tentar imaginar sobre o que foi :) Mas obrigado por esta frase, reforçaste a minha convicção.
No entanto a nível europeu não foi mesmo nada bom.
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