Tempo

A nossa relação com o tempo não foi sempre a mesma. Aliás nos ultimos séculos essa relação sofreu uma profunda alteração e os conceitos modernos de tempo são ainda demasiado recentes para estarem perfeitamente assimilados. Por exemplo, o valor moral da pontualidade não deverá ter mais de dois séculos e foi introduzido com a revolução industrial. Existindo um brutal esforço de doutrinação desse conceito.

Mas não foi a relação do Homem com o tempo que me motivou a escrever este post. Mas sim a relação do Homem com o seu Tempo. Tal como a relação anterior também a mesma não é estática. Certamente uma pessoa no pós-epoca romana teria uma relação bem diferente com o seu tempo do que actualmente temos com o nosso. Felizmente passamos uma era, que em comparação com as anteriores é substancialmente melhor. Talvez na história humana europeia só encontre paralelo no apogeu da sociedade romana, e mesmo assim conceitos como liberdade não eram sentidos por tantas pessoas como actualmente sentimos.

Não obstante este pormaior, a verdade é que a nossa relação pré-crise financeira e económica era de orgulho. Tinhamos orgulho do tempo em que viviamos e julgamos que essa sensação seria eterna. O problema é que, como em tudo na vida, se for sentido em demasia poderá acarretar perigos. Neste caso existiu um efeito calmante derivado deste orgulho. Talvez por ter sido um final de século, julgo que nos convencemos que tinhamos chegado a algum porto, algum nirvana a que estavamos destinados a viver o resto da nossa existência.
E assim vivemos a primeira decada deste milénio, mais preocupados em gozar o momento do que criar novos momentos. Julgo que não é por acaso que a expressão "progressista" deixou de ser utilizada como elogio e passou a ser utilizado como insulto. Bem e depois aconteceu, no meio do nada, esta crise violentissima. E fomos obrigados a sair do nosso turpor, do deslumbramento que a relação com o nosso Tempo tinha provocado.
Agora olhamos para trás e verificamos que não estamos assim tão diferentes, que o nosso tempo não é o melhor e que existe muito para conquistar e ser inventado. Que temos de agir em vez de apenas reagir.
Julgo que pela primeira vez em muito tempo ansiamos não pelo nosso Tempo, mas sim pelo Tempo que virá, tal e qual como à cerca de 100 anos atrás...

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