A feira do livro apareceu na minha vida tardiamente. Foi apenas na minha adolescência que experienciei uma ida à feira. Mas foi paixão à primeira vista. A mistura do movimento, sons e cultura fez-me sentir como uma criança no meio de uma loja de doces. Tendo crescido numa altura que não existia "colombos", os livros que tinha conhecido fisicamente eram os que podiam caber numa pequena loja de bairro. Assim, de repente, estava no meio de um oceano de escritores, histórias e pensamentos.
Escusado será dizer que se tornou num ritual anual. Assim depois de um ano de ausência (com a overdose de trabalho não pude ir o ano passado) lá regressei. Desta vez foi à noite, algo que ainda não tinha feito. Não estava tão cheio como habitualmente. E lá fui eu subindo o parque, ziguezagueando pelas bancadas de editoras. Não tinha nenhum livro em mente mas estava á espera de comprar um autor português. Quando cheguei ao espaço Leya já estava um pouco frustrado pois ainda não tinha encontrado nada. No entanto tinha a esperança de satisfazer essa vontade nesse espaço. Depois de um bocado, e de ter saltado várias bancas, a minha frustração aumentou significativamente. Todos os autores que tinha escolhido estavam estupidamente mais caros do que eu imaginaria. Fui então para a Caminho pois, depois de me ter rendido à realidade dos preços, achei que Saramago me daria o melhor value for money que poderia obter. Mas ao desfolhar o Caim lembrei-me que tinha um livro de Saramago por ler. Pensei que seria estupido comprar um novo livro e comecei a minha descida.
Reparei na bancada da Fnac e decidi ver o que tinha. Resumindo o que se passou apenas digo que voltei a sorrir como uma criança. E de repente estava a comprar que nem um maluco. Comecei pelo "A arte da guerra" de Sun Tsu, um livro para ler com calma mas que sempre quis ter mas que era sempre demasiado caro. De seguida, e sem nenhuma ordem definida comprei o "Human, all too human & Beyond good and evil" de Nietzsche, um autor que sempre quis ler, o "The Pickwick papers" de Charles Dickens para me deixar o meu espirito animado e apurar uma parte da minha escrita, o "Tom Sawyer abroad & Tom Sawyer detective" de Mark Twain para finalmente conhecer o Tom que sempre me apaixonou, o "Alice no país das maravilhas" de Lewis Carroll para entrar num mundo que faz mais sentido que aquele em que vivemos actualmente, o "Rights of Man" de Thomas Paine para entender melhor o Estado tal como ele é hoje e o "Democracy in America" de Alexis de Tocqueville para regressar a uma America que anda bastante escondida nos tempos que correm.
E quando preparo-me para me ir embora ouço que Richard Zimler, um escritor que aprecio bastante, irá fazer uma apresentação de uma curta-metragem que ele escreveu. Não querendo perder a oportunidade de o ver ao vivo lá regressei ao espaço Leya. Gostei dele, que me pareceu simples, humilde e simpático. No meio da apresentação voltei a perceber porque é que faz sentido o Estado patrocinar o cinema. A verdade é que essa curta-metragem que eu estava a ver nunca teria existido se o Estado não tivesse contribuido. Essa mesma curta-metragem que recebeu um prémio num festival importante de Nova Iorque. Depois do filme ainda tive oportunidade de fazer um pergunta ao escritor, vencendo assim a minha natural timidez. Depois veio a apresentação de um movimento artistico, e entre um momento e outro ainda tive tempo de ter inspiração para o meu segundo conto que vou escrever.
Dei-me por satisfeito e decidi terminar a minha visita. Fui de novo ziguezagueando as bancadas e ainda consegui encontrar mais um livro. Foi o "Actualidades" de Albert Camus, autor de um dos meus livros favoritos e alguém que quero conhecer melhor.
Agora sim, agora estava preparado para me ir embora. E se não se importam nos próximos meses estarei ocupado a ler...
P.S. só por curiosidade estes livros todos custaram-me menos que 31 eur. Talvez a nossa falta de hábito de leitura não derive tanto da nossa cultura mas sim dos preços estupidamente caros dos livros editados em Portugal.
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2 comentários:
Olá.
Sem dúvida. Os livros andam carissimos, e acabo sempre por esturricar muito dinheiro com eles. Ms vale a pena.
Quanto à fiera do livro, é sempre um local aonde se encontram bons livros a preços acessiveis.
Desculpa este enorme atraso... Sem duvida que a feira do livro costuma ter bons precos o problema e generico, para um pais que precisa de ganhar habitos de leitura poderiamos por comecar pelos precos dos livros, mas para isso vai ser necessario termos um mercado bem maior que o portugues...
Um abraco
Stran
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