Alice no país das maravilhas!

Não, não é sobre o livro, nem irei mudar o meu nome para Alice (que, salvo erro é impossível em Portugal pois implicaria mudar de sexo também).
Mas somente é a expressão do que é viver a minha vida. Um conjunto de episódios, de pequenos momentos que me fazem sorrir. Que me fazem ter a certeza que a minha vida tem sido um mar de rosas. Que tenho tido a sorte de encontrar pessoas espectaculares e interessantes, e principalmente reveladoras da natureza humana (no seu melhor lado).
E para que ninguém tenha duvidas, não tomei nenhuma dose de "soma", as pessoas à minha volta é que fazem questão de tornar a minha vida numa verdadeira vida de "Alice no país das maravilhas!"
P.S. Inspirado em todas as pessoas (reais e virtuais) que conheço e despoletado por um comentário de Vera Santana do Simplex.

Post politicamente incorrecto: Natalidade

Surgiu uma conversa muito interessante entre o blogue do MLS e o André Escórcio do "Passaros sem Nariz" sobre a temática da natalidade e o que fazer para aumentar a taxa de natalidade.
Este artigo não é tanto por causa de medidas, mas mais por causa da abordagem a este tema. Eu vou contar um segredo, que estranhamente tem o habito de ser polémico:
- Eu não quero ter filhos!
Eu sei, lá se foi 90% de oportunidade de estar numa relação duradoura...
Tem sido uma experiência interessante afirmar isto publicamente, pois sei o que é dizer algo verdadeiramente politicamente incorrecto. E não devem imaginar a pressão que existe, e que fica visível quando digo esta frase, para uma pessoa ter um filho. Desde o pasmo mais sincero até ao olhar mais ameaçador, existe um pouco de tudo.
É nessas alturas que sei na pele o que é ser um outsider, mas é a minha opção e tenho de viver com a mesma. Agora o que peço é que não transformem a questão da natalidade num designio nacional!
É que se já dificil viver tendo esta opção, se continuarem a insistir nesta tónica qualquer dia sou linchado vivo!!!

O meu nome é Zola...

Boa noite a todos os estimados leitores deste blogue!

O meu nome é Zola! Obviamente não é o meu nome verdadeiro, mas sim uma alcunha que ganhei em criança. Ou melhor uma diminuição da alcunha original.
Em miudo vestia a mesma camisola com muita regularidade. O que eu adorava aquela camisola! Não sei ao certo qual foi o meu fascinio inicial, apenas sei que adorava-a e utilizava-a sempre que podia. Por vezes mesmo às escondidas da minha mãe. Levava-a na minha mochila para a escola e assim que estava longe dos olhos dela vestia-a.
Obviamente isso teve consequências, e quando és miudo, os outros miudos apanham aquilo que é diferente em ti e fazem questão de tornar obvio. Deixas de ser tu e passas a ser aquilo que sobressai em ti. No meu caso foi a minha camisola, a minha querida camisola.
Rapidamente o meu nome deixou de ser utilizado e eu era a "Camisola". Obviamente esta alcunha não durou muito tempo, pois era pouco práctica e foi substituida pela mais fácil "Zola". Olhando para trás julgo que tive sorte, no meio de tantas alcunhas horríveis, Zola até era interessante - ainda por cima era nome de jogador de futebol - pelo que me agarrei a ela como me tinha agarrado à camisola. E assim ficou...
Não vos maço mais, apenas um ultimo parágrafo para agradecer o convite (aliás convites, que o Stran teve de penar uma pouco até eu aceitar - apenas porque achava que não me iria enquadrar). Não escreverei sobre politica, ou sequer pensamentos (que isso é departamento do Stran), mas simplesmente pequenos desvarios do meu dia-a-dia, ou da minha imaginação. Espero que gostem!
Um abraço sentido a todos os que leêm este blogue e um especial ao Stran!

Nova aquisição do Tuga 1.75

Há algum tempo que ando a namorá-lo para ser autor deste blogue. É um amigo pessoal, mas pouco dado à blogosfera. O seu nome é Zola, e será a nova aquisição aqui do Tuga.

Espero que gostem do seu trabalho tanto quanto eu!

Eu estou Farto!!!

www.fartos.net

"No Irão morreram mais de 20 pessoas em protesto contra os resultados eleitorais e exigindo mais democracia. As liberdades fundamentais foram suspensas. Nas Honduras, militares golpistas extraditaram o presidente democraticamente eleito. Os protestos já geraram duas vítimas mortais. As liberdades fundamentais foram suspensas. Na China, 140 pessoas morreram em protestos contra a suposta hegemonia de uma etnia. 1400 pessoas foram presas e as liberdades fundamentais foram suspensas.Estamos fartos disto! Estamos fartos de repressões e ditadurices. Estamos fartos de desrespeitos claros aos mais básicos direitos fundamentais. Estamos fartos de ver a liberdade ser suspensa. Estamos fartos de ver a democracia ser adiada em tantos países. Estamos fartos da paz ser constantemente hipotecada. Não pode ser! Estamos fartos e, dentro das possibilidades de cada um, vamos fazer barulho por isso! Temos dito!"

Para quem me conhece (e que acompanhou a minha estadia no blogue internacional Wall of Speech) sabe que à muito que estou farto disto! O desafio foi-me proposto pelo Carlos Santos, e agora chega a minha vez de escolher outros a se pronunciarem. Escolho alguns dos blogues que têm o habito de afirmarem que defendem acerrimamente a liberdade e democracia a se pronunciarem, além dos dois blogues que estão em campanha. Veremos então qual a reacção destes blogues:

SIMplex

Jamais

O Afilhado

O Insurgente

31 da Armada

O Valor das Ideias está de Parabéns!!!

Dito desta forma até parece estranho! Afinal obviamente que uma ideia com valor está sempre de parabéns. Mas neste caso refiro-me ao excelente blogue do Carlos Santos, que faz hoje um ano de existência.

Que venham muitos mais anos!

Riqueza (III)

Nos dois artigos anteriores tentei visualizar a riqueza num prisma que não incluisse o dinheiro. A ideia era, que desta forma conseguiria ter uma noção mais clara da riqueza que poderia alterar ou melhorar a percepção de algumas temáticas sobre este prisma.

Assim, genericamente reconheci que o nível de riqueza é verificada pelo nosso nível de consumo dos recursos disponíveis. Neste caso, tanto o conceito de consumo, como o conceito de recursos é entendido num sentido muito lato. O consumo refere-se a um acto, que pode ou não ser fisico (por exemplo, o passar tempo em lazer é enquadrado para mim neste acto) mas está relacionado positivamente com o nosso bem estar. Quanto ao conceito recurso, ele também é visto por mim num conceito lato e abrange recursos tangíveis e intagíveis.

Assim como aparece o dinheiro? O dinheiro é a invenção humana que permite relacionar todos estes conceitos subjectivos. E devo dizer que é possivelmente uma das maiores invenções do ser humano. O dinheiro é uma relação entre as diferentes valorizações que damos ao consumo de recursos e que é materializada num papel. Como ente “fisíco” ele não tem muito valor, como o caso do Zimbabwe é exemplificativo. Isto é, a importância do dinheiro está na relação que estabelece e não na sua materialização. Embora foi esta materialização que permitiu ser uma excelente invenção. É que uma nota aumenta a portabilidade da nossa riqueza (não ficamos presos ao local fisico onde nos é permitido consumir), acabando decisivamente para o aumento da nossa liberdade de acção. Por outro lado, o dinheiro é materializado num bem que tem uma elevada durabilidade o que representou também uma maior liberdade de acção (podemos escolher quando consumir).

Mas este conceito, o dinheiro, visto desta forma poderá, se explorado com mais profundidade (algo para fazer num futuro mais longinquo) poderá permitir encontrar novas soluções para velhos problemas. Por exemplo, se modificarmos a forma como expressamos essa relação (actualmente está em valor absoluto) podemos mudar significamente a vida tal como a conhecemos.

Deixo aqui um exemplo:

Esta separação entre dinheiro e riqueza pode fazer sentido por exemplo na temática das multas. Será justo que para a mesma infracção dois individuos vejam o seu nível de riqueza diminuir de forma desigual?

Eu julgo que não, que a mesma infracção deveria estar associada a um igual decréscimo de riqueza. O problema é que tal e qual como as multas estão criadas (valor absoluto) faz com que essa realidade exista. Desta forma, dependente do nível de riqueza do individuo, a multa tem um impacto diferenciado.

Falemos em números: O individuo A tem um rendimento de 10,000,00 Eur, enquanto o Individuo B tem um rendimento de 500,00 Eur. Ora se determinada infração tem o valor pecuniário de 500,00 Eur, tal significa que tem impacto diferente nestes dois individuos. O Individuo A perde apenas 5% da sua riqueza enquanto o individuo B perde a totalidade da sua riqueza.

Objectivamente, este sistema acaba por criar discriminações na liberdade dos individuos (e a liberdade de infracção é para mim uma liberdade também) o que é de todo um efeito indesejavel.

Por exemplo, uma possível solução é a transformação das multas de valor absoluto para valor relativo (uma percentagem do rendimento mensal, por exemplo). Dessa forma garantia-se que o impacto seria identico para todos, e que o desincentivo a determinada acção (que é o conceito por detrás das multas) era identico para todos.

Aprender a ficar calada!

Manuela Ferreira Leite (MFL) pediu:

"Aquilo que se está a dizer é que existe já essa entidade, existe uma entidade independente para acompanhar as contas públicas no Parlamento, que deveria neste momento pronunciar-se, porque surge a ideia, dos factos, de que afinal as contas públicas estão verdadeiramente descontroladas"

Ora MFL sabe, como ex-Ministra das Finanças que tal pedido é inútil pois não teriam tempo de aferir com fiabilidade essa situação. Ela sabe, melhor como ninguém que a opinião dessa entidade, para ser util e fiável levaria mais tempo do que aquela determinou para se pronunciar (antes de Setembro).

Mas pior que isso ela sabe, melhor do que ninguém o que é viver uma época em que as "contas estão verdadeiramente descontroladas".

Existe um orgão em Portugal que afere sobre a fiabilidade das contas publicas em Portugal: o Tribunal de Contas. E se recuarmos no tempo, é interessante o parecer que o Tribunal de contas faz das contas públicas em 2003.

Em 2003 era Manuela Ferreira Leite a ministra das Finanças e o Tribunal de contas emite o seguinte parecer sobre as contas publicas geridas por MFL:

1 - "a informação registada não pode ser considerada fiável, consistente e tempestiva, quando se verificou estar incompleta, conter valores por rectificar, regularizar ou conciliar"

2 - "A análise à execução do Orçamento da Receita registada na Conta Geral do Estado de 2003 leva o Tribunal de Contas a manter uma posição de reserva sobre os valores nela inscritos, dado que o respectivo modelo de contabilização continuou a não assegurar o registo integral, tempestivo, fiável e consistente da informação."

Mais, acerca do tempo que demora a enviar a informação para o Tribunal de Contas também é claro que 1 mês é manifestamente insuficiente, pois quando coube à mesma enviar essa informação:

"É no cumprimento destes preceitos constitucionais que se apresenta o Parecer do Tribunal sobre a Conta relativa ao ano económico de 2003, recebida em 1 de Julho de 2004."

Sim, Manuela Ferreira Leite demorou 6 meses a enviar informação que era escassa e pouco fiável.

Assim sem duvida que Manuela Ferreira Leite sabe o que é ter "contas descontroladas", e também sabe melhor que ninguém, que o que pediu é impossível de obter. Assim resta-me apenas a duvida: porque é que a mesma o fez?

Sexo!

Continuando que a discussão com o Tiago sobre a IVG, gostava hoje de abordar esta questão sob outro prisma. Para mim este é uma das questões basilares nesta temática e que ainda não vi discutida neste tema, talvez por pudor.
Quando falamos de IVG, estamos antes demais a falar de sexo! Não existe IVG sem sexo. É um facto incontornável. Portanto, eu julgo antes demais qualquer outra discussão (sobre o que é a vida, sobre se a gravidez é ou não um acto opcional ou se é algo respeitante ao individuo ou não) teremos de definir o campo do sexo.
Antes demais comecemos pela parte biológica (neste caso minimalista): é um acto fisico! Mais do que isto é complicar a definição.
Posto isto julgo que o sexo deve ser visto subjectivamente, isto é, cada pessoa determina o que realmente é para ela. Julgo que numa sociedade livre, ninguém tem a ver com a noção que cada um tem sob esta temática.
Para mim só diz respeito ao(s) envolvido(s). Na masturbação é só o próprio, na relação monogamica é o próprio e o seu parceiro ou parceira, e em relações poligamicas ao próprio e aos diversos parceiros.
E se é verdade que durante muitos anos a visão de sexo estava estritamente relacionada com a procriação, avanços recentes (pilula, preservativo, pilula do dia seguinte, etc...) quebrou essa relação. Portanto julgo que é tão legitimo alguém encarar o sexo como forma de procriar, ou alguém conceber o sexo completamente fora do conceito conceptivo do mesmo.
Ora acontece que existe um grande problema para estes ultimos, é que biologicamente ainda é impossível escaparmos ao risco de gravidez. É algo que por enquanto foge ao nosso controlo, por mais precauções que façamos não podemos evitar esse risco.
E é neste contexto que aparece o IVG. Eu diria que é a medida que está no limiar. Isto é, é a medida que permite que uma pessoa não tenha uma nova vida se não pretender e que ainda não afecta mais ninguém que não ela própria.
Pode ser questionável? Sim! Podem as pessoas não concordar? Sim! Mas é inaceitável que a sociedade se pronuncie sobre qual a "moral" mais correcta. E é aqui que eu não te compreendo, Tiago. É que independentemente de todas as opiniões diferentes que possamos ter, os pontos de vista, as moralidades opostas que tenhamos, a verdade é que ser-se liberal é isso mesmo: construir uma sociedade em que todas estas diferentes visões existem e co-existem, e isso era algo que a lei anterior não permitia. Podes ser contra a pratica do IVG, mas dificilmente poderás defender a sua proibição sem destruires a coerência da tua doutrina liberal.

Interrupção voluntária da gravidez

Em discussão com o Tiago sobre a avaliação do governo, surgiu o tema do IVG. E eu, no meio da discussão, preconceituosamente acabei por acusa-lo de ter preconceito partidário sobre este tipo de temas. A questão é que eu estava enganado, e gostaria de aproveitar esta oportunidade para pedir desculpa pelo meu erro (foi uma valiosa lição para mim de como não julgar de forma preconceituosa uma pessoa através de uma corrente ideológica que essa pessoa defende).

Posto isto fui pesquisar a opinião desfavorável à IVG do Tiago, e achei que era importante escrever este artigo. Ao contrário do que se possa pensar este é um tema que deve ser sempre discutido, pois nele estão inseridos conceitos de sociedade e de vida cujo o debate não termina num referendo.

O IVG é sempre um tema polémico. E a questão coloca-se em dois níveis:

1) Será correcto a IVG?

2) Será correcto que a minha opinião sobre a IVG influencie a possibilidade de outro ser humano com opinião contrária de praticar a IVG?

Começo então por responder à primeira questão e responderei letra por letra.
G de gravidez: Julgo que este tem de ser o primeiro passo desta discussão, ainda antes sequer das outras questões filosóficas de o inicio da vida ou de quando se considera que vida é vida. A minha primeira duvida é: A gravidez é algo da esfera do individuo ou não? Julgo que todos concordamos que sim. Independentemente dos motivos não é legitimo na nossa sociedade interferir nesta temática. Não é a sociedade que determina quem deve ou não engravidar, quando o individuo quer ou não engravidar, e em que situações é que é legitimo um individuo engravidar. Ultrapassada esta questão, passemos à proxima: o que é a gravidez? “Pregnancy (latin graviditas) is the carrying of one or more offspring, known as a fetus or embryo, inside the uterus of a female.” Ou seja, no fundo é o acto de suportar a criacção de uma nova vida. Neste contexto torna-se claro que: (A) a gravidez é algo do foro individual, (B) é o processo (neste caso biológico) pelo qual o individuo consegue gerar uma nova vida. A minha ultima questão é: deve ou não a geração de uma nova vida ser uma escolha activa do individuo? Na minha opinião sim! A gravidez é e tem de ser uma decisão activa da pessoa. Afinal trata-se de mudar uma não existência em existência, pelo que não faz nenhum sentido a sociedade decidir pelo individuo.
I de interrupção. Acrescentando esta letra à anterior levanta-me uma nova questão: Será a interrupção da gravidez algo moralmente negativo? A resposta é não, apenas porque não cai no campo da moralidade, pelo menos ainda não nesta letra. A interrupção da gravidez é um fenomeno natural e que ocorre com muita frequência. Mais, quando ocorre desta forma é esquecida com o tempo, não tendo qualquer impacto (geralmente)a longo prazo na vida da pessoa.
V de voluntária. É aqui que começa realmente a polémica. E a grande questão é: deverá o individuo poder decidir não continuar com a gravidez? Obviamente para mim sim. Pelo que expus na letra G, a gravidez deve ser sempre uma escolha pois estamos a falar de acrescentar algo que não tem existência, e a não existência nunca deve prevalecer sobre a existência. Uma nova vida nunca é uma obrigação, ou pelo menos não o deve ser na sociedade que idealizo. Neste contexto levanta-se uma nova questão: até quando deve um individuo poder decidir? Para mim a resposta é obvia e deriva da biologia: até ao momento em que o projecto de vida se passe a considerar uma vida. Para mim isso ocorre quando o conjunto organico que está no interior do individuo começa a ter a capacidade de sentir, que segundo a biologia julgo que é às 10 semanas. A partir desse momento já não é um projecto de vida mas sim uma vida e o cenário muda por completo de prisma.

Nesto contexto julgo que a IVG é um comportamento perfeitamente correcto numa sociedade que se queira responsável. E uma sociedade só pode responsabilizar individuos se der aos mesmos a capacidade de decisão.

Passemos então para a segunda questão, e a que estava em causa no referendo. A resposta obviamente é não. Como disse anteriormente a gravidez é e deve ser sempre uma opção e uma opção individual, e a minha opinião não deve obrigar uma outra pessoa a se comportar da maneira que eu acho mais correcta. Aliás é demasiado perigoso permitirmos que isso aconteça, pois significa deixarmos os outros interferir na nossa esfera puramente individual.

E agora Tiago, é isto que me confunde em ti. Como liberal que és, deverias, mesmo não concordando com a IVG, ser contra a obrigação que a sociedade impunha ao individuo de agir de determinada maneira. A minha questão para ti é: porque é que aceitas que a sociedade deve obrigar determinado individuo ter um filho contra a sua vontade no momento em que este ainda não é mais que um projecto? (e não consegui encontrar resposta nos teus artigos).
P.S. Obviamente este artigo é aberto a discussão de todos os que o queiram discutir.

Riqueza (II)

No artigo anterior tentei expôr o conceito de consumo como factor de riqueza para o individuo. A ideia é quebrar a ligação automática que existe entre riqueza e dinheiro. Essa ligação é a meu ver errada e deverá ser substituida pela ligação entre riqueza e consumo (isto é, acto de consumir). Assim o nível de riqueza não é aferido pelo nível de dinheiro que um determinado individuo tem mas pelo seu nível de consumo.

Neste artigo queria elevar o nível de análise do individuo para a sociedade (na figura de país). Como determinar o nível de riqueza de determinado país? Seguindo a mesma lógica será através do consumo. Ou dito de outra forma o nível de riqueza do país depende positivamente da capacidade de consumo desse país. Então como podemos aferir se um país é rico ou pobre? Será pelo que consome? Eu diria que sim, o nível de consumo determina o nível de riqueza momentanea (ou no calão financeiro é o seu valor spot) do país.

Mas a este nível é necessário ir um pouco mais longe no conceito para podermos determinar o nível de riqueza do país.

É necessário determinar primeiro o que é que um país pode consumir. Na minha opinião um país apenas consome recursos, e neste caso, temos unicamente 3 recursos para consumir: mão-de-obra (o que as pessoas podem fazer), as matérias primas (ou seja a base para as pessoas poderem fazer algo) e o espaço fisico.

É costume ouvir os politicos e a vox populi dizer que somos um país pobre, mas seremos? Para começar a responder vou partir do cenário de que no mundo só existia o território português.

Neste cenário diria que sim, que somos pobres pois, se isso acontecesse, diminuiamos muito o consumo em comparação com o consumo actual. Porquê? Bem porque não temos nem recursos energéticos (petroleo, etc...) ou nem de matérias primas (falta-nos componentes para diversos bens que existem actualmente). Por outro lado não somos muito populosos pelo que a nossa produção máxima também não seria muito elevada neste cenário. A única vantagem deste ultimo ponto é que por sermos poucos temos mais espaço disponível per capita para consumir pelo que aí seria o único ponto que efectivamente que nos daria riqueza.

Ou seja, num cenário fechado como este não temos um consumo potencial muito elevado (logo a nossa riqueza é baixa), e provavelmente dedicariamo-nos à agricultura, pastoreo, construção de casa, etc, mas estariamos muito longe do ponto actual de consumo.

Então o que nos permite usufruir da nossa riqueza actual? Simplesmente o facto de não vivermos isolados no mundo e de podermos usufruir dos recursos dos outros países em troca de alguns dos nossos recursos. E é aqui que sobressai a importância de duas coisas que muitas vezes é falado mas poucas vezes é explicado:

1) Comércio Externo – como vimos são as trocas com países com outros recursos que permitem elevar a riqueza potencial do nosso país. Só com comércio internacional é que podemos usufruir do bem-estar que temos actualmente. Assim, nunca nos devemos esquecer disso principalmente quando alguns politicos mais populistas começam a ter discursos nacionalistas ou proteccionistas. Nesta optica fica claro que essas medidas irão levar sempre ao empobrecimento do nosso país.

2) Exportações – como eu disse é necessário, para elevarmos a nossa riqueza, utilizar recursos que não são nossos. Para tal existem duas formas: ou em troca damos parte dos nossos recursos futuros para trocar por recursos actuais estrangeiros (divida externa) ou então damos em troca recursos nossos que os outros países valorizam e recebemos recursos dos outros países (exportações). Assim quando os politicos afirmam que as exportações são importantes, eles não nos mentem. Esta é a única maneira de elevarmos a nossa riqueza sem penhorarmos o nosso futuro. A grande questão prende-se com: que recursos nacionais é que os estrangeiros querem? Dos três que apontei julgo que o mais importante é o da mão-de-obra. Historicamente verificamos que os países que apostaram nas suas pessoas são as que apresentam a melhor qualidade de vida a nível mundial.
Embora existiriam mais pontos para falar sobre este tema, deixarei esse debate para quando falar do Dinheiro no próximo artigo.

Riqueza (I)

Nos próximos tempos vou-me debruçar sobre o conceito de riqueza e as suas implicações na realidade portuguesa. O meu primeiro passo consiste em separar o conceito de riqueza e dinheiro.

Será que dinheiro e riqueza são os mesmos conceitos? Muitas vezes utilizamos estes conceitos de forma idêntica (p.e. utilizamos como frases sinónimas “aquela pessoa tem muito dinheiro” e “aquela pessoa é rica”) mas para mim são conceitos diferentes.

A riqueza é, a meu ver, a capacidade que determinado indivíduo tem de consumir. Ou seja, em abstracto é totalmente independente do conceito de dinheiro. Sem consumo uma pessoa não possui riqueza. Além disso é a riqueza que está associada ao bem-estar e não o dinheiro. Vou tentar demonstrar com recurso ao absurdo:

Imaginemos um mundo onde existe um indivíduo (indivíduo A) que não tem família nem amigos, nem nunca vai ter, e não vai ter filhos ou casar, ou seja é completamente e eternamente solitário.

Imaginemos que o Individuo A recebe duas propostas de empresas para empregos idênticos para o mesmo país:

a) numa recebe 10.000 Eur mensais;

b) na outra recebe 1.000 Eur mensais;

À partida a primeira proposta é de longe a melhor proposta. No entanto se introduzir as seguintes clausulas:

a) na proposta A só fica disponível 5% do dinheiro sendo que os restantes 95% são transferidos para uma conta-poupança à ordem do Individuo A, sendo que ele só terá acesso depois de morto.

b) na proposta B fica disponível 100% do dinheiro.

Neste caso torna-se obvio que a segunda proposta é a melhor, e embora o Individuo A fique com mais dinheiro na primeira proposta, ele fica mais rico na 2ª proposta.

Posto isto, julgo que é muito importante que esta ligação esteja clara, pois é relevante para analisar algumas frases e perceber o que realmente querem dizer.

Por exemplo, à algum tempo atrás Manuela Ferreira Leite afirmou: “É necessário diminuir o consumo e aumentar a poupança”*. Traduzindo, o que a MFL afirma é que temos todos de ficar mais pobres. Em teoria, o objectivo é ficar mais pobre agora para ficar mais rico no futuro. Além de parecer um conselho que as nossas queridas avós diriam, é algo que não parece mau. O problema é a realidade portuguesa! Num país com 2.000.000 de pessoas a viver no limiar da pobreza é quase desumano afirmar que essas pessoas têm de ficar ainda mais pobres!
(continua)
* citação de memória

Testamento Vital: Declaração

AVISO: Este artigo pode ser considerado ofensivo e ferir susceptibilidades

Por cobardia do nosso Primeiro-ministro, não será legislada a lei relativamente ao Testamento Vital nesta legislatura. Para os mais desatentos não se está a falar de Eutanásia, mas somente de uma declaração para as situações em que uma pessoa não quer receber tratamento (julgo que por fundamentos religiosos isso já existe) e por algum motivo não se poderá expressar. Infelizmente numa sociedade aldeã, ainda achamos legitimo numa situação como a que descrevi que a pressão social se sobreponha à vontade legitima individual. Parece que ainda não somos nós que mandamos no nosso próprio corpo.

Posto isto, e como não quero ficar a aguardar pela vinda deste diploma, quero deixar bem claro quais as situações em que não quero receber tratamento:

Declaro que:

1 – Caso ocorra um acidente, ou incidente, que me coloque num estado de coma irrecuperável ou vegetativo, não quero receber tratamento médico que me permita viver.

2 – Caso ocorra um acidente em que terei lesões cerebrais graves e diminua substancialmente a minha capacidade de raciocínio, e desse acidente necessite de tratamento para estabilização e sobrevivência, não quero receber esse tratamento.

Mais, para que fique claro a minha posição relativamente a este ponto e à Eutanásia, declaro que se uma pessoa muito, muito próxima de mim, cair numa situação em que a sua vontade se enquadrasse numa situação de testamento vital ou eutanásia, que cumprirei a vontade da mesma, independentemente dos avanços legais sobre esta situação. Julgo que ninguém tem o direito de sobrepor-se, nesta questão, à vontade do próprio causando e prolongando o sofrimento injustificadamente.

Numa sociedade que ainda permite que, por exemplo, existam discriminações baseada em fundamentos religiosos, é tempo de dizer basta a um caso claro de violação do direito natural e inalienável do indivíduo a decidir no seu próprio corpo.

Racionalidade e emoções

Desde o inicio da humanidade que temo-nos habituado a dividir binomialmente várias questões. Não sei muito bem como começou. Possivelmente está relacionado com algo tão simples como o dia e a noite e com a simbologia que fomos atribuindo a cada uma destas partes da nossa vida.

Como animal diurno que somos é natural que o dia esteja relacionado com algo positivo e a noite com o aspecto negativo. Afinal era de dia que estavamos mais despertos, que caçavamos e nos alimentavamos, que melhor viamos o mundo à nossa volta e que nos sentiamos mais seguros, enquanto à noite tinhamos os nossos sentidos limitados, aumentando o mundo do desconhecido e ficavamos assim desprotegidos em relação aos nossos predadores, que embora não os pudessemos ver sabiamos que estavamos lá.

Julgo que é natural que este binómio tenha acompanhado a nossa evolução e religiosidade, sendo transferido para o nosso consciente e subconsciente. Muitas das divindades e deuses estavam relacionados com o Sol (o egipcio Ra, o azteca Tonatiuh, o hindu Savitr, etc. até o nosso cristão Deus está relacionado com a luz). E é antiga a dictonomia entre luz (positivo) e trevas (negativo).

Aprendemos a associar sempre a determinada dictonomia, uma carga positiva e outra negativa, um Bem e um Mal por assim dizer. E esta dictonomia tem evoluido com a própria evolução humana. Assim, existe noite e dia, que transferido para a religião (e vou dar o exemplo da cristã) deu lugar ao Deus e o Diabo, que por sua vez centralizando-se no ser humano enquanto ser religioso deu lugar à alma (simbolo de pureza) e ao corpo (objecto material dos pecados) e que por sua vez transfigurou-se, com o advento da filosofia e ciência moderna, na dictonomia racionalidade e emoções.

Se verificarmos os nossos discursos, acções e muitas vezes as nossas argumentações, vemos que à racionalidade damos uma conotação positiva (é o bem) enquanto às emoções damos uma conotação negativa (é o mal) e guiamos muitas das nossas acções nesse sentido. A construção de argumentos têm de ser racionais e muitas das vezes uma das criticas que sofremos é que estamos a tornar a questão demasiado emocional, ou a responder emocionalmente à questão, como se isso fosse negativo.

Assim construimos um mundo onde racionalidade e emoções são campos distintos, são a noite e o dia do nosso mundo, um representando o bem (sendo o herdeiro da nossa alma) e o outro representando o mal (no fundo o sucessor do corpo na dictonomia alma vs corpo). Agimos de forma a tentar obter uma racionalidade pura completamente extripada da componente emocional.

No entanto eu julgo que esta é uma falsa dictonomia, e que por ser falsa acaba por limitar em muito as nossas vidas, a nossa liberdade e mesmo a nossa felicidade. Se olharmos para o corpo humano e para a forma como tanto a racionalidade como as emoções funcionam no nosso corpo, verificamos que não são opostas mas partes integrantes de um mesmo sistema e essênciais no nosso corpo e até na nossa sobrevivência. Ao ler Damásio, Panksepp ou outros ficamos com a noção da importancia que as emoções desempenham não só na nossa sobrevivência mas também na nossa própria racionalidade sendo impossíveis de dissociar e impossibilitando assim qualquer dictonomia. Se é verdade que foi por termos a capacidade racional que pudemos fazer coisas extraordinárias (ou menos extraordinárias como escrever este blogue por exemplo) a verdade é que tudo o que pensamos, tudo o que imaginamos foi-nos fornecido pelo nosso sistema emocional.

Posto isto julgo que é profundamento errado distanciarmo-nos das nossas emoções, são elas os nossos melhores conselheiros do mundo à nossa volta e na maioria das vezes mais “racionais” que a nossa própria racionalidade!

Ladrões


A notícia já é antiga, mas parece-me que a realidade ainda não melhorou. Sempre existiu algo que eu ainda não entendi: como é que tanta gente fica sem ordenados ou indeminizações? Num país onde se tu tirares o dinheiro a outra pessoa estás a cometer um crime, como é que podemos conviver pacificamente com o facto de que em determinada situação isso acontece e ninguém é punido? Pior, chegou a tal ponto que muitas pessoas acham normal?

Este dinheiro que fica por pagar não é dinheiro da empresa, pior, quando falamos de indeminizações falamos de dinheiro muito antigo (dependendo da antiguidade do colaborador), pelo que muitas das vezes ele não existe porque o dono ou os donos da empresa julgaram que era melhor eles ficarem com ele e gastarem numa vivenda ou num carro de luxo.

No entanto não vejo nenhum politico fazer alguma coisa em concreto para evitar que isto aconteça. Todos os dias pessoas deste país ficam sem dinheiro que lhes pertence e nós apenas assobiamos para o lado. E se neste momento alguém entrasse na vossa casa e vos tirasse calmamente o vosso dinheiro, a vossa aparelhagem, o vosso computador, também ficariam a assobiar para o lado?

Incompetentes!!!

Não, não falo dos “cornos” de Manuel Pinho, nem de politicos e afins. Também não é sobre economistas e académicos (parece que afinal não é a mesma coisa) ou de manifestos e contra-manifestos.

Falo sim de gestores, directores, patrões e patronato ou melhor de todos com responsabilidade de decisão numa empresa, (embora obviamente não sejam todos incompetentes) e dos defensores de uma liberalização do “mercado” de trabalho (desculpem as aspas mas para mim pessoas nunca vão ser produtos transacionáveis) e da actual lei laboral.

A actual lei laboral já é suficientemente flexivel para resolver os problemas que estas pessoas costumam colocar como fundamento para uma ainda maior flexibilização do trabalho e da lei laboral. Julgo que o primeiro motivo para este pedido é a completa ignorância do Código de Trabalho. Aliás gostaria de desafiar os leitores ou comentadores a colocarem alguma situação que gostariam de ver contemplado na legislação laboral ou que concretizem uma critica. E a ignorância pode ser por nunca terem lido o código ou por não conseguirem compreender o que está lá escrito. O segundo motivo é pela sua expressa incompetência em lidar com problemas laborais e manifesta incompetência de gestão.

Se verificarmos as qualificações destas pessoas rapidamente verificaremos que parte dessa incompetência deriva do facto de serem pessoas inqualificadas para exercer essas posições. Outra parte dessa incompetência deriva do facto de essas pessoas não perceberem que a maioria dos problemas nesta area são motivados não pelo curto prazo mas pelo longo prazo. Isto é, o problema não nasce por exemplo na altura em que é necessário reestruturar (curto prazo), mas sim da relação que foi criada (ou na maioria dos casos não foi criada) ao longo dos anos de trabalho (longo prazo). Se essa relação foi criada e trabalhada, então não existirá nenhum problema no curto prazo.

Assim, quando ouço alguns a pedir mais liberalização do “mercado” de trabalho, só vejo alguém a pedir que se premeie a incompetência. Algo que manifestamente me parece irracional!

Despedir

Começam com 5 segundos de silêncio. Cinco segundo que demoram uma eternidade. Nesses segundos nada se diz, ajeitam-se papéis, tem-se uns ultimos pensamento. Há minha frente a pessoa é toda ela nervos e ansiedade. Em igual medida tenta colocar no rosto uma face de calma absoluta, mas é traida pela suas mãos irrequietas e o seu olhar que teima em pousar em lado nenhum.

Os meus pensamentos derivam entre a justificação racional e o tem de ser. Respiro fundo mentalmente e sei no meu inconsciente que os meus pensamento são sem significado e sem serem sentidos.

E depois quebra-se o silêncio, diz-se ao que se vem, é se transparente e explica-se tudo o quanto é possível explicar. Então as mãos acalmam e os olhos focam a sua atenção em nós. Tudo muda nesse instante com essas palavras ditas e escritas, entregues em forma de carta.

O nervoso já não existe e ansiedade à muito que desapareceu. Em seu lugar ficam o rosto de aceitação à nova realidade, uma aceitação de impotência perante a nova realidade e no seu olhar uma tristeza que tenta disfarçar. Um tristeza pelo fim de algo, de algo que demorou muito a construir e que já não se pode recuperar.

Terminamos com votos de esperança, ultimos desejos de uma realidade irrepetível...