Um hino ao Non Sense

Os Monty Pythons devem de estar a roer-se de inveja, por não terem feito uma obra tão non-sense como a mensagem do líder do PNR no passado sábado. Aqui ficam alguns excertos de um autêntico hino à comédia non sense:

"O PNR é um partido que luta de forma desigual neste sistema político da ditadura dos cinco partidos com assento parlamentar."

"Apenas estes têm acesso sistemático aos meios de comunicação social, acesso a programas televisivos e, inclusivamente acesso aos debates nas campanhas eleitorais que deveriam ser um ponto zero e igualdade de oportunidades para todos os partidos."

"Apenas estes cinco partidos e as suas mensagens estafadas e mentirosas, são do conhecimento dos portugueses."

"Este é um partido que sabe perfeitamente que tem o seu espaço político próprio, o qual, diga-se, nem é pequeno."

"Nessa medida, o Partido Nacional Renovador, sem qualquer tipo de apoio ou máquina partidária..."

"Contudo, os Nacionalistas são sistematicamente conotados com violência e comportamentos perigosos, o que dá de nós uma imagem redutora, mentirosa, injusta e cobarde."

"Mancham a nossa imagem e bom-nome..."

"Isto é perseguição política!"

"Esta perseguição e diabolização de que somos alvo é o preço da nossa coragem e da nossa coerência."

"O sistema político começa a perceber o nosso claro crescimento..."

"Estão com medo!"

"...mas que os assusta porque de facto somos a única oposição."

"Eles sabem que o nosso crescimento é uma realidade e que terão que preparara umas cadeirinhas na Assembleia da República."

"Oposição à ditadura dos cinco partidos que mais parece um partido único com 5 secções."

"Eles que se reclamam todos como campeões da tolerância e liberdade de expressão, estão a construir o mais revoltante totalitarismo do pensamento único!"

"Ai de quem cometer delito de opinião contra os seus dogmas."

"É neste contexto que se persegue politicamente o PNR."

"Ao caso do cartaz seguiu-se o pânico com a realização da conferência internacional da nossa juventude."

"A comunicação social, tentando manchar a nossa imagem junto dos portugueses, não tem parado de fazer ligações abusivas e maldosas gerando com isso um clima de alarme social."

"...queimarem a nossa imagem e bom-nome..."

"Estou revoltado com tanta hipocrisia!"

"Faz muita falta a Portugal o PNR no parlamento..."

"Portugal precisa de nós!"

"O PNR irá crescer muito. Isso é uma certeza!"

"Querem controlar a tua mente e a tua liberdade."

"Queremos jovens que pensem pela sua cabeça."

"Bem sabemos que os manuais escolares, os programas e os professores veiculam o pensamento e a cultura esquerdista, marxista e de pensamento obrigatório."

"As referências estão a ser destruídas pela ditadura do relativismo e os valores estão a ser substituídos pela estupidificação do politicamente correcto."

"...ser-se jovem nacionalista não é fácil. Requer muita personalidade e muita força."

Foi difícil pois o discurso é todo non-sense, mas estas foram sem duvida as melhores.

É crime, Estúpido!

Este é o grito que quero deixar aos "nacionalistas" que ainda não entenderam que uma mensagem com apelo ao Ódio Racial não é liberdade de expressão.

Muito honestamente eu não sei quem eles querem tentar iludir (acho que até uma criança de três anos compreende), quando se intitulam presos politicos, ou que são proibidos de falar o que querem. É que eles ainda não entenderam que é um CRIME (ponho em bold para ver se fica impresso no inconsciente deles)! Todos os cidadãos portugueses não podem apoiar actividades que estão fora da lei. Qualquer mensagem que incite à violência (qualquer tipo de violência) é CRIME! E porquê? Porque a preservação da nossa integridade fisica é um direito/valor que nos assiste desde que nascemos. Por isso mensagens como "morte aos pretos!" é um CRIME, não é liberdade de expressão!
Por isso se não entenderam porque é que o incentivo ao ódio racial não é liberdade de expressão eu volto a repetir: é porque

É CRIME, ESTÚPIDO!!!!

Manifesto Anti-Movimentos Nacionalistas

Dediquei esta semana aos movimentos nacionalistas, mais concretamente aos movimentos de extrema-direita. Hoje explico pela primeira vez a minha posição relativamente a esta corrente ideológica.

1. Não confundo Nacionalismo com extrema direita, racistas, xenofóbicos ou criminosos. Na minha óptica são visões diferentes.

2. Dito isto, pelo que li em vários blogs, muitos nacionalistas, ou que se auto-intitulam nacionalistas, não só confundem estas noções como misturam-se com os mesmos.

3. A utilização da palavra nacionalismo é utilizado por muitos para mascarar ódios, irracionalidades e complexos de inferioridades. Estas pessoas são "violentas" e representam uma ameaça à nossa sociedade. Na impotência de mudarem as suas vidas, canalizam todas as suas frustrações para as minorias étnicas e para os imigrantes.

4. Sou 100% contra estas pessoas. Para mim representam um recuo a nível de humanidade e têm um pensamento retrogado.

5. Ora se retirarmos destes movimentos os 99,9 % (acredito que seja esta percentagem) dos indivíduos que são pura e simplesmente racistas e marginais, sobra apenas 0,01% de indivíduos que vêem esta corrente como é devido.

6. Para mim nacionalismo é defender algo por causa de uma nacionalidade. Logo à partida é um movimento que nasce pela exclusão.

7. Além disso, acho que o nacionalismo é um sentimento e nunca deve ser um suporte de movimentos políticos, pois é bastante redutor. Além disso, como sentimento, também é muitas vezes irracional, o que na sociedade de hoje é algo que não faz sentido ser transformado em movimento.

8. O nacionalismo é algo directamente ligado à identidade de um povo. A sua identidade não deve ser, nem forçada, nem estática. O movimento nacionalista tenta a cristalização dessa identidade o que só nos empobrece culturalmente e nos torna piores.

9. A ruptura que muitos "nacionalistas" apregoam contra o politicamente correcto não passa de uma desculpa para se poderem justificar quando têm afirmações simplesmente estúpidas.

10. O nacionalismo não é algo que se luta, a nossa identidade não depende de guardiões, é feita de escolhas. Os movimentos nacionalistas nada fazem a não ser nos limitar estas escolhas.

Dito isto, não digo que sou anti-português. Nem que não goste de Portugal ou de algumas tradições portuguesas. Não significa que, quando vou às compras não tente comprar o máximo de produtos nacionais. Não, sou o oposto, mas não compreendo como isto, possa ser razão para a existência de movimentos nacionalistas. E ter esta causa enquanto Partido Politico é o pior que pode acontecer. A politica é a decisão de como nos organizamos e o gostar de ser português, nunca deve ser imposto, nem ser um modelo de organização. Gosto de Portugal porque nasci e cresci aqui e aprendi a gostar de algo que se chama "identidade portuguesa". Gosto dos nossos defeitos e das nossas qualidades, mas nunca utilizo este sentimento para discriminar ou para rejeitar outras culturas. Porque na verdade, embora português prefiro-me considerar "cidadão do mundo".


Boas Noticias

[Dediquei esta semana a escrever sobre o fenómeno de extrema-direita, mas hoje não vou comentar nada, apenas dar uma boa noticia]

Imagem demonstrativa da evolução do logotipo da Polícia Judiciária


"Dezenas de operacionais da Direcção Central de Combate ao Banditismo da Polícia Judiciária estão neste momento a executar mandados de detenção e de busca contra suspeitos de envolvimento em movimentos fascistas e neonazis.
A operação, que começou hoje às primeiras horas da manhã, é o culminar de uma investigação que decorria na DCCB há vários anos. Envolve reforços de outras direcções centrais da PJ, está a decorrer na área da Grande Lisboa e é acompanhada por um procurador do DIAP de Lisboa." (noticia ainda em desenvolvimento)

In Expresso

Actualizações:

"A Polícia Judiciária deteve hoje 20 suspeitos na operação que está a decorrer desde madrugada. Dois dos detidos são militantes do PNR, informação confirmada ao Expresso pelo presidente do partido, José Pinto Coelho: “Sei que foram detidos pelo menos dois militantes, mas não faço a mínima ideia porquê”. De acordo com uma fonte policial, os mais de cem efectivos da PJ que participaram nas detenções “apreenderam armas de fogo ilegais, bastões, gazuas e material de propaganda nazi”.
A operação foi desencadeada a dois dias da realização de uma conferência internacional com partidos e grupos de extrema-direita de toda a Europa. O Expresso sabe que alguns dos detidos estavam a organizar o evento que, segundo José Pinto Coelho, vai mesmo para a frente. “Estas detenções são estranhas, sujam o nome do partido, mas não põe em causa a conferência. Uma coisa não tem nada a ver com a outra”."

In Expresso

O Surrealismo português em análise


Esta foi a verdadeira obra de arte surrealista que o P.N.R. nos presenteou à umas semanas e que até agora não foi devidamente analisada. Vejamos então as mensagens subliminares do seu autor:

1) Primeiro o Lema: "Basta de Imigração Nacionalismo é a solução". O tamanho das letras não é puro acaso. O que este autor quis afirmar foi que imigração é mais importante do que nacionalismo e para não ser muito óbvio colocou as palavras "Basta de..." para ficarmos com a ideia era simplesmente uma mensagem racista, o que como se provou não ser (senão este cartaz era ilegal);

2) Outro pormenor que não nos escapou foi a escolha da cor do cartaz. O azul simboliza céu, estratosfera, que é exactamente onde estão os ideais do P.N.R. (estão muito longe da realidade);

3) Mas a análise da cor não fica por aqui, se repararem a cor à esquerda do individuo que está no cartaz vai ficando mais claro passando a branco à sua direita. Isto é o que acontece ao cérebro humano que se vai aproximando do P.N.R. vai ficando cada vez mais vazio, até não ter nada lá dentro;

4) Também o símbolo do P.N.R. não aparece colocado ao acaso, remete-nos para a imagem de um papagaio ao ombro de um pirata. O autor aqui quis transmitir que o P.N.R. não é mais do que umas "papagaiadas" de outros movimentos semelhantes europeus, que como um fiel papagaio, nada mais faz do que repetir o que o dono diz;

5) Finalmente também não passou despercebido o tamanho dos blocos que estão na parte inferior do cartaz. Esta gradação é feita para transmitir a ideia de um objectivo que não se vai cumprir, tipo letras pequenas num contrato para ninguém ler (assim em 2009 já ninguém se vai lembrar do que eles queriam em 2007).

Mas depois de nos estontear com esta verdadeira obra de arte, e como "o artista é um bom artista" decidiu-nos presentear com um upgrade à sua obra anterior:



o que nos merece o seguinte reparo:

1) O autor decidiu manter as principais ideias mas introduziu outras que nos leva a algumas questões filosóficas;

2) A primeira questão que nos quis levantar foi com a mensagem principal "As ideias não se apagam - Discutem-se" poderia pensar-se que era apenas mais uma banalidade, mas no fundo o que o autor quis, ao colocar esta mensagem sobre o mesmo fundo azul a tender para o branco, foi nos colocar a seguinte pergunta filosófica: "Como se discutem ideias com cabeças ocas, vazias de ideias?"

3) Outra alteração foi o símbolo do P.N.R., foi uma simples mudança, mas o autor quis transmitir a falta de identidade deste movimento, esta foi sem dúvida uma subtileza só digna de um grande artista;

4) Com a substituição de "Portugal aos portugueses" por "Portugal precisa de nós" o autor quis introduzir um pouco de realismo a esta obra. Portugal precisa de um mau exemplo. Afinal já tentaram explicar a diferença a uma criança entre o que é bom e o que é mau sem ter um exemplo do que é mau? É impossível!

5) Agora o que eu não consegui analisar, e gostaria que me ajudassem foi na mensagem "Façam boa viagem, à mesma" O que é que o autor quis dizer com o "à mesma"? Aqui foi surrealista demais para mim.

Por isso depois destas duas verdadeiras "obras de arte" já nada temos que invejar ao surrealismo de Dali.

Entre a esquizofrenia e a mera estupidez


"Entre a esquizofrenia e a mera estupidez" é o primeiro post de uma semana em que me vou dedicar aos movimentos de extrema direita e nacionalista em Portugal. Espero que gostem...

Têm sido polémicos e têm tido uma visibilidade mediática muito acima do seu real valor. São minúsculos e são um grande contributo à educação das nossas crianças ao serem o exemplo perfeito do que de mau pode ter um movimento politico. São os movimentos de extrema-direita, representados actualmente pelo Partido Nacional Renovador.

O seu discurso caracteriza-se entre uma imagem esquizofrénica ou a simples estupidez. Aqui estão apenas uns excertos representativos do mesmo:

"Eu respeito as instituições(...) Não respeito os deputados (...) Não respeito nenhum deputado desde o BE à direitazinha medíocre do CDS-PP." Ou seja respeitam as Instituições mas não as que são Partidos votados em democracia como o BE, PCP, PS, PSD e CDS-PP. Um perfeita coerência...

Outra característica de esquizofrenia é a mania da perseguição que está bastante presente nas palavras do líder do PNR como podemos ver: "O presidente do PNR não tem problemas nenhuns em dizer que há um lobby gay cada vez mais enraizado no sistema político português e que está a levar a água ao seu moinho. (...) Portugal está crescentemente dominado por uma mentalidade esquerdista e temos que pôr um travão. É cada vez mais o lobby gay a mandar..."

Mas o mais interessante no PNR é como ele afasta o seu apoio a associações de extrema direita, afirma que o seu partido não é racista mas tem as seguintes afirmações:

"Como vê esta associação entre o PNR e um grupo extremista? Ao contrário daqueles que se reclamam campeões da tolerância e da liberdade, nós não fazemos discriminação de pessoas. Quem se quiser juntar à defesa da causa da soberania nacional, da identidade nacional, são todos bem-vindos. Para mim é indiferente se é careca, se é cabeludo."

E diria mais, que não lhe interesse que valorize tanto um condenado por um crime racial da maior cobardia em que um imigrante foi assasinado por uma dezena de pessoas quando estava no Baiiro Alto.

"O pontapé de saída, a campanha de angariação de fundos, isso sim, a ideia foi dele [Mário Machado]. A ideia gráfica do cartaz foi minha"(...) Sou amigo do Mário, é um excelente nacionalista. Aprovo todos os tipos de nacionalismo, de toda a gente que ama a sua pátria. O Mário foi a face mais visível da fase impulsionadora do nacionalismo."

Quanto à organização de um evento com organizações racistas e diria criminosas ele é peremptório:"A organização cabe à JN. É claro que a JN é do PNR, portanto o PNR é responsável por tudo. Este encontro tem como objectivo a troca de experiências entre os vários movimentos e juventudes nacionalistas europeias."

Outras tiradas brilhantes são as seguintes:

"Eu acho que as pessoas olham para mim e vêem que não tenho ar de charlatão." Está completamente enganado mas a ignorância pode ser, por vezes, uma benção.

"Todos os anos, o TC é implacável com os partidos nas coimas que aplica. Acho que é de uma profunda injustiça..." Claro que quando uma instituição funciona é sempre uma injustiça...

"Ridicularizam-nos por ter apenas dez mil votos, mas o sistema sabe que teremos centenas de milhares de votos, um milhão de votos e por aí sucessivamente. É por isso que nos vandalizam os cartazes e nos ridicularizam. Porque sabem que estamos a crescer. Neste momento sentimos que o sistema está profundamente nervoso connosco." Além de ter as manias das grandezas, ele ainda não se apercebeu que o ridículo está nele e no seu discurso.
Estes excertos foram retirados de uma entrevista que o líder do PNR concedeu ao Sol e pode ser lido aqui.

[Uma nota final: ainda bem que a mensagem do líder no seu site foi colocado no dia 01 de Abril. É que por momentos até achei que era verdadeira!!!]

Entrevista a Jose Miguel Júdice - in arquivo electrónico - centro de documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra

Para avivar memórias junto um extracto de uma entrevista que já ninguém se recorda. E este senhor foi condecorado em 10 de Junho pelo Presidente da República. Ainda há quem se lembre dos atentados bombistas nos carros de Democratas e assassinios a tiro nunca investigados. Um grupo terrorista que sediado em Espanha fazia incursões em Portugal. Agora é uma história esquecida

http://dn.sapo.pt/2005/08/17/nacional/a_cruzada_branca_contra_comunistas_e.html
http://www.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=ejjudice

José Miguel Júdice
"Portugal está numa fase que anuncia uma profundíssima decadência"

Veio de Coimbra e de um meio "rebelde", tinha um sonho para a África portuguesa que norteou os anos da sua juventude, bateu-se por ele, perdeu.Viveu os anos do PREC do outro lado da revolução, lutando contra ela, onde podia e com quem podia.
Texto de Maria João Avilez
- Que idade tinha no 25 de Abril?
JOSÉ MIGUEL JÚDICE - Tinha 25 anos.
P. - E fazia o quê?
R. - Comecei por ir para o Porto, montar o Movimento. Vivi lá dois, três meses, a montar estruturas, a criar delegações... sempre numa semiclandestinidade...
P. - Porquê numa semiclandestinidade?
R. - Porque havia a ideia de que éramos vigiados e veio a provar-se que havia uma vigilância muito intensa. Depois mudei-me para Lisboa, onde vim chefiar a organização socioprofissional do Movimento Federalista Português, que depois viria a transformar-se - após o célebre discurso de Spínola em 27 de Julho de 74 - em Partido do Progresso. Era uma tentativa desesperada de manter coisas... À medida que umas coisas iam morrendo, agarrávamo-nos a outras...
P. - Para vocês foi um golpe mortal esse discurso do general Spínola? O fim da ilusão?
R. - Foi terrível ouvi-lo dizer que a independência é o caminho natural da autodeterminação. Não abandonei pura e simplesmente nessa altura a actividade política por solidariedade para com as pessoas com quem estava. Mas a razão essencial da nossa luta perdeu todo o sentido e isso fez com que me tivesse afastado da luta política, embora não da luta pelo país. E depois, no 28 de Setembro, fui preso...
P. - Porquê?
R. - Porque havia aquela história da manifestação da maioria silenciosa com a qual estávamos de resto em desacordo, considerámo-la um erro absoluto. Mas quem estava connosco achava que não havia alternativa senão apoiar Spínola e, assim, entendemos que não valia a pena ter razão. Fui a Coimbra convencer as pessoas que não queriam aderir a vir para Lisboa, o Pacheco de Amorim foi para o Porto fazer o mesmo. E, obviamente, fomos para a chacina, visto tudo aquilo ser um disparate. Estive três meses em Caxias. Fui solto e no 11 de Março voltei a ser preso, embora nada tivesse a ver obviamente com tudo o que ocorreu. Em Agosto fui demitido da função pública e em vez de ir para o Brasil como era suposto, fui para Espanha trabalhar no departamento político do MDLP, tentando salvar o que era possível ser salvo.
P. - O que era o MDLP? Exactamente?
R. - Na altura, um movimento político chefiado por Spínola, o Movimento Democrático de Libertação de Portugal. Era uma tentativa de criar condições para resistir ao hipotético golpe comunista que se dizia que ira ser desencadeado. Digamos que era uma força de resistência popular.
P. - Financiada por quem?
R. - Havia quem tratasse disso, não era o meu pelouro...
P. - ... mas o dinheiro aparecia?
R. - Sim, embora o meu ordenado me permitisse comer e dormir mais ou menos por caridade... Eu vivia numa Casa de Santa Zita em Espanha, pagando uma renda baixíssima. No fundo, vegetávamos...
P. - Mas acreditava naquilo que fazia, havia uma fé ou tratava-se de um mal menor?
R. - Quando se vê tudo a soçobrar, os pessimistas desistem, os optimistas agarram-se ao que têm...
P. - ... mas você está longe de ser um optimista!
R. - ... as dificuldades estimulam-me!
P. - Isso é diferente de ser um optimista...
R. - Eu achava possível evitar que o comunismo tomasse conta de Portugal - e o comunismo para mim era uma coisa complicada... Portanto, fiquei ali no meu terreno a fazer na minha trincheira o combate que podia fazer. Era sobretudo um trabalho intelectual, de elaboração de estudos.
P. - Por exemplo?
R. - Fizemos um projecto de Constituição, um esquema de Organização Administrativa do país...
P. - Fizemos... quem?
R. - Não devo ser eu a revelar esses nomes, eles um dia o dirão se assim o entenderem. Houve muita gente que foi do MDLP e que não o afirmou, não o revelou, porque julgou melhor assim... Mas nada tem de vergonhoso, algumas dessas pessoas correram até grandes riscos em Portugal ao fazerem esses trabalhos teóricos.
P. - Também havia os trabalhos práticos, como por exemplo os incêndios das sedes comunistas...
R. - Penso que isso não foi o que se chama organizado, foi algo que rebentou. Aliás eu fui para Espanha já na fase final desse processo, no final de 75, e havia estudos teóricos sobre a política de alianças, sobre se houvesse um golpe de Estado como é que deveria reagir, como se organizaria o regime transitório, etc.

Perguntas revelantes aos Jornalistas

Já que está na moda lançar nos Jornais as perguntas relevantes para o Primeiro-Ministro responder, vou fazer o mesmo aos Jornalistas que escreveram as noticias sobre este caso:

- Existiu algum tipo de tráfico de influências neste caso? Esta questão é na minha opinião a duvida mais importante a esclarecer (e neste caso não só pelos jornalistas como pelo Primeiro-Ministro).

- Porque é que as peças jornalísticas têm tantas falhas? tenho lido algumas das peças jornalísticas sobre este caso e levantaram-me várias duvidas e existem ou erros óbvios ou má interpretação dos dados colocados.

- É afirmado, no Diário de Noticias de hoje, que "José Sócrates pede transferência para a Universidade Independente e obtém equivalência a sete cadeiras apesar de não as ter feito no ISEC nem no ISEL". Será que o jornalista leu os planos curriculares destas disciplinas e comparou com os de todas as disciplinas que José Sócrates teve nas Instituições referidas, ou só comparou os nomes entre disciplinas para chegar a esta conclusão? É que por vezes os curricula de duas disciplinas numa faculdade equivalem ao curriculum de uma única disciplina noutro.

- O jornalista que escreveu a afirmação anterior, ou editor que supervisionou a peça jornalística, leu com alguma atenção o nome das disciplinas? É que uma das disciplinas que José Sócrates obteve equivalência é "Investigação Operacional" que completou no ISEL, contradizendo assim essa afirmação.

- Tendo indícios (embora fracos) de um possível caso de tráfico de influências na peça original, porquê é que as peças seguintes se centram mais no facto de o Primeiro Ministro ser ou não ser Engenheiro? Será que para os jornalistas em questão (de todos os media) é mais importante o estatuto académico do primeiro-ministro do que um possível caso de trafico de influências?

- Existindo poucos indícios de Tráfico de Influências porquê é que os jornalistas decidiram lançar a noticia à mesma? Será que existiu pressão politica para o fazer?

Como nota final gostava de afirmar que algumas das dúvidas levantadas pelos media são legitimas, mas são abafados por muito outras que são no mínimo ridículas...

Estou a correr para a secretaria da minha faculdade...

Enquanto escrevo este post estou a correr para a secretaria da minha faculdade. Quero apurar se existe algum erro na minha licenciatura, afinal nunca se sabe se um dia chego a Primeiro-Ministro (algo muito duvidoso) e vejo que afinal a minha licenciatura acabou num domingo.

Não quero suspeições, aliás outra coisa que vou ter em mente se me candidatar é saber todos os nomes dos meus professores desde a primária até à faculdade, não vá algum jornalista mais atento desconfiar que afinal existiu alguma irregularidade no meu percurso académico. Quanto aos problemas sociais e económicos não me vou importar muito com eles pois parece que não são muito relevantes para o cargo de Primeiro-Ministro.

Importante é mesmo saber se um Primeiro-Ministro é Engenheiro ou licenciado em Engenharia, o resto é conversa...

A Força dos Números

Com a polémica do cartaz (ainda me refiro ao do P.N.R. e não dos Gatos Fedorentos) o P.N.R. ganhou bastante visibilidade. E de repente parece que Portugal é constituído por inúmeras pessoas de extrema-direita (provável sonho do líder do dito partido). Quem passa pelos blogs ditos nacionalistas e pela pagina do P.N.R. quase que fica com a sensação de que vivemos num país completamente diferente daquele que nos passeamos todos os dias. Parece que o nosso país se tornou num bando de intolerantes que ainda vê a imigração como um mal e não como uma oportunidade de desenvolvimento (económico e cultural). Parece que não gostamos de regimes democráticos e que outra vez queremos um ditador como Salazar. No entanto se analisarmos o número de votos que esse partido obteve vemos a expressão que esta ideologia tem na nossa sociedade.

Então, nas ultimas legislativas este partido obteve a "estonteante" votação de 9.374 votos (apenas 2 partidos obtiveram menos votos que este). E da 1ª vez que foram a votos conseguíram uns impressionantes 4.712 votos. Os mais fãs deste movimento dirão que em 3 anos quase que duplicaram o numero de votos, mas convenhamos, se eu formar um partido e na 1ª eleição tiver 1 voto e passado 3 anos obter 10 votos posso reclamar que tive um crescimento impressionante de 1000% mas continuo a ter uma expressão minúscula, quase invisível, na sociedade.

E é isto que este movimento representa na nossa sociedade, nem sequer se pode dizer que tem uma pequena voz. E por mais polémicos que as opiniões deles sejam, não representam nada na nossa sociedade, são, como os seus membros, marginais à nossa sociedade sem influência, ou melhor com a influência e peso que nós lhe queiramos dar.

E quando afirmam que são "abafados" pela imprensa e alvo de censura da mesma eu só pergunto isto: Já alguém ouviu falar do Partido Humanista? Alguém conhece algum membro do mesmo? Pois é que este partido obteve nas ultimas eleições legislativas 17.056 votos e ninguém os ouve falar que não têm visibilidade nos media.

Com isto não quero minimizar o perigo destes movimentos. Na minha opinião eles representam o que de pior se pode ter numa sociedade e são extremamente perigosos se obtiverem mais apoios pois promovem uma cultura de ódio. No entanto, no calor desta discussão, não nos podemos esquecer que são apenas um pequeníssimo grupo de pessoas que ainda não se habituaram a conviver com a diferença entre culturas e com os benefícios de uma sociedade multicultural.

Algumas duvidas à extrema direita


Sempre que existem problemas económicos na sociedade, existe uma franja da sociedade que imediatamente aponta o dedos a esses "malfeitores" que nos roubam os salários e não nos deixam ser felizes. Tentam oportunamente capitalizar apoios, discriminando um grupo da sociedade que é facilmente identificável e por vezes até ganham mais um voto ou dois.

Então aparece-me algumas duvidas existenciais:

- Se a imigração é motivo de subdesenvolvimento então como é que é explicado o desenvolvimento dos Estados Unidos? Ou será que foi apenas coincidência?

- Se os nossos antepassados pensassem assim então porque é que estamos tão contentes por viver em Portugal?

- Os que defendem que o nosso país deve ser fechado à imigração e que os portugueses emigrantes deverão regressar a Portugal também defendem que os povos muçulmanos deverão regressar à Peninsula Ibérica?

- Quando os nacionalistas de extrema direita falam de identidade e colocam ênfase nas raízes será que estão a defender o Homem de Nearthental?

- Quando defendem que “O PNR tem toda a legitimidade para defender o fim da imigração proveniente de países cujos cidadãos, por razões culturais, não se conseguem integrar na comunidade portuguesa.” (frase tirado do blog de Máquina Zero) será que a sociedade portuguesa tem toda a legitimidade para pôr fim a organizações que “por razões culturais, não se conseguem integrar na comunidade portuguesa.”? Por exemplo o P.N.R.?